Image
Crítica

Brvnks

: "Meet The Terrible"

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock, Bedroom Pop

Para quem gosta de: YMA e Helo Cleaver

Ouça: As Coisas Mudam, Holy Motors e Sei Lá

7.8
7.8

Brvnks: “Meet The Terrible”

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock, Bedroom Pop

Para quem gosta de: YMA e Helo Cleaver

Ouça: As Coisas Mudam, Holy Motors e Sei Lá

/ Por: Cleber Facchi 16/06/2022

É difícil não se identificar com as canções de Bruna Guimarães, a Brvnks, em Meet The Terrible (2022, Independente). Sequência ao material entregue pela cantora e compositora goiana em Morri de Raiva (2019), o novo disco preserva o caráter confessional do registro que o antecede, porém, utiliza de uma linguagem essencialmente ampla, capaz de dialogar de forma cada vez mais sensível com as dores e inquietações compartilhadas qualquer indivíduo na vida adulta. São composições que tratam sobre a permanente sensação de fracasso e crises de ansiedade que antecedem momentos de breve celebração.

Meu terapeuta acabou de dizer / Que eu deveria ter esperado / Que nada é tão ruim / É apenas o meu ‘e se’“, detalha na introdutória Ok, This Is Hard, música que segue de onde Guimarães parou no disco anterior e ainda aponta a direção seguida no restante da obra. São momentos de maior vulnerabilidade e evidente entrega emocional. Mesmo quando celebra o amor, como na cantarolável Happy Together, há sempre um fino toque de desconfiança, como um mergulho na mente inquieta da própria artista. Instantes em que a cantora goiana transita em meio a memórias de um passado ainda recente, dores e pequenas reflexões.

Tenho um novo mundo, nem aí eu to mais / Sua cabeça esquenta, eu não ando pra trás / As coisas mudam, e eu lá / As coisas mudam, e eu lá“, repete em As Coisas Mudam, música que não apenas soa como um precioso exercício de libertação pessoal, como evidencia o esforço da artista goiana em se aventurar pela construção dos versos em português. Essa mesma busca por novas possibilidades fica ainda mais evidente com a chegada de Holy Motors, faixa de essência nostálgica que dialoga com o mesmo som empoeirado que tem sido explorado de forma quase exaustiva por nomes como Wild Nothing e Youmi Zouma.

Acompanhada pelos produtores Gaspar Pini e Gabriel Mielnik, Brvnks investe em um material que posiciona as guitarras e segundo plano e destaca o uso dos sintetizadores, como uma extensão natural em relação ao repertório entregue no disco anterior. A própria Cici, também cantada em português, é uma das boas composições que evidencia isso. Nada que pareça distanciar totalmente a artista da sonoridade incorporada em Morri de Raiva, conceito reforçado na própria faixa-título do álbum e na crescente Sei Lá, bem-sucedido encontro com Popoto Martins, da Raça, um dos momentos de maior grandeza do trabalho.

Nesse sentido, Meet The Terrible pouco acrescenta quando próximo de outros registros dotados de uma sonoridade bastante similar, porém, encanta pela profunda honestidade de Guimarães no tratamento dado aos versos. “E bem do lado de dentro de mim / Tem o bom e tem o ruim / E todas as coisas que existem são assim“, reflete em Lado de Dentro, música que detalha essas pequenas contradições, angústias e incertezas exploradas pela artista. É como um delicado exercício de exposição sentimental, direcionamento reforçado na canção seguinte, ​I Love You Charlie. “E eu não posso acreditar que estou dizendo isso / Eu sei que é brega como o inferno / Mas foda-se, eu digo vamos ser brega / E viver esse amor clichê“, confessa.

Esse mesmo cuidado no processo de composição acaba se refletindo até o fechamento da obra, em Sleeping on Trial. São versos que partem de memórias e acontecimentos vividos pela artista (“Eu deveria ter visto isso acontecer / Eu deveria ter tentado ficar indiferente“), mas que acabam se relacionando com os tormentos e realizações pessoais de qualquer ouvinte (“Mas agora eu não preciso de resposta / Encontrei meu lugar na frase“). Um misto de confissão e criativo resgate de sentimentos sempre universais, proposta que preserva, perverte e amplia tudo aquilo que foi apresentado durante o lançamento de Morri de Raiva.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.