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Crítica

Bufo Borealis

: "Natureza"

Ano: 2025

Selo: Zenyatta Records

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Hurtmold e Kiai

Ouça: Ponkan, Urca e Esquina

8.5
8.5

Bufo Borealis: “Natureza”

Ano: 2025

Selo: Zenyatta Records

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Hurtmold e Kiai

Ouça: Ponkan, Urca e Esquina

/ Por: Cleber Facchi 25/07/2025

Muito embora exista desde o fim da década passada e acumule uma sequência de grandes obras, como o introdutório Pupilas Horizontais (2020) e Diptera (2022), é em Natureza (2025, Zenyatta Records) que a Bufo Borealis alcança sua melhor obra. E isso fica mais do que evidente em Papa Lou, labiríntica criação que não apenas inaugura o terceiro álbum de estúdio do grupo formado por Juninho Sangiorgio (baixo), Anderson Quevedo (saxofone), Rodrigo Saldanha (bateria), Paulo Kishimoto (percussão e sintetizadores), Tadeu Dias (guitarras) e Vicente Tassara (pianos), como trata de ambientar o ouvinte ao fino repertório.

São pouco mais de seis minutos em que pinceladas instrumentais surgem e desaparecem a todo instante, proposta que faz lembrar veteranos como Miles Davis, porém, preservando a identidade da banda. Prova disso acontece em Urca, composição que emana brasilidade no movimento sinuoso das guitarras, sopros, percussão e teclados que vão da Banda Black Rio a João Donato em um curtíssimo intervalo de tempo.

Entretanto, é com a chegada de Ponkan, terceira música do disco, que a banda realmente diz a que veio. O jazz, base para grande parte das faixas, ainda se faz presente, porém pontuado pela fluidez das guitarras e uma linha de baixo que instantaneamente tende ao funk psicodélico de nomes como Isaac Hayes e Sly & The Family Stone. É como um campo permanentemente aberto às experimentações do sexteto paulistano.

Não por acaso, ao mergulhar na canção seguinte, Dobok, o coletivo mais uma vez muda de direção. Talvez contida quando próxima das canções que a antecedem, a faixa parte de uma base reducionista, lembrando o pós-rock de grupos como Hurtmold e Tortoise, porém, aos poucos, acrescenta novas camadas. Pena que o rompimento brusco, quando a música começa a engrenar, traga a sensação de uma ideia ainda incompleta.

Nada que Décimo Piso, vinda em sequência, não dê conta de solucionar. Um pouco mais robusta do que a faixa que a antecede, a canção, mais uma vez, trata de destacar cada instrumento da banda. O destaque acaba ficando por conta do saxofone de Quevedo, sempre amarrado às guitarras de Dias, como um dueto imaginário, suprimindo a ausência da voz que parece pronta para brotar a qualquer momento da música.

Escolhida para o encerramento do trabalho, Esquina não apenas revela o lado mais sofisticado da obra em seus momentos iniciais, como muda bruscamente de sentido e destaca o experimentalismo do grupo. São quase dez minutos de delírios instrumentais, improvisos e emanações cósmicas que ampliam os horizontes da banda. Uma recusa ao óbvio que reafirma a capacidade do sexteto em brincar com as possibilidades.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.