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Crítica

Bule

: "Dançando Sem Ninguém Ouvir"

Ano: 2023

Selo: Toca Discos

Gênero: Pop Rock, Synthpop

Para quem gosta de: Tagua Tagua e Jambu

Ouça: Tudo Pra Mim e Era Muito Mais Pra Mim

7.4
7.4

Bule: “Dançando Sem Ninguém Me Ouvir”

Ano: 2023

Selo: Toca Discos

Gênero: Pop Rock, Synthpop

Para quem gosta de: Tagua Tagua e Jambu

Ouça: Tudo Pra Mim e Era Muito Mais Pra Mim

/ Por: Cleber Facchi 13/07/2023

Se ao ouvir as composições de Dançando Sem Ninguém Me Ouvir (2023, Toca Discos) o coração não apertar, algo está muito errado com você. Segundo e mais recente trabalho de estúdio produzido pelos pernambucanos da Bule, o sucessor de Cabe Mais Ainda (2018) destaca o lirismo confessional e forte sensibilidade da banda na mesma proporção em que reforça a capacidade de Pedro Lião (sintetizadores, voz), Carlos Filizola (guitarras, sintetizadores), Bernardo Coimbra (baixo), Kildare (bateria) e Damba (percussão) em dialogar com música pop em uma abordagem tão atualizada como deliciosamente retrô.

Entre camadas de sintetizadores e vozes parcialmente submersas, como se sintonizadas em uma antiga estação de rádio, o quinteto que iniciou suas atividades em 2017, na cidade de Recife, convida o ouvinte a se perder em um cenário empoeirado onde memórias de um passado recente surgem e desaparecem a todo instante. São composições talvez consumidas pelo forte aspecto monotemático dado aos versos e pequenas repetições estruturais, porém, tão bem trabalhadas em estúdio pelo grupo que é difícil não se deixar conduzir pelo misto de saudade e triste sentimento de aceitação que se reflete até os minutos finais.

Não dá mais / Pra fingir que não foi ruim / Era muito mais pra mim“, canta Lião, em Era Muito Mais Pra Mim, música posicionada próxima ao encerramento do disco, porém, uma eficiente, representação de tudo aquilo que o grupo busca desenvolver lírica e musicalmente no decorrer do trabalho. É como um mergulho na mente dos próprios realizadores, seus traumas e inquietações, porém, desdobradas de forma sempre acessível, efeito direto do uso destacado dos sintetizadores e bases melódicas que atravessam o pop da década de 1980 de forma a atrair e capturar a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição do álbum.

E não poderia se diferente. Tão logo tem início, em Canção de Amor, cada fragmento do disco parece pensado como um hit em potencial. Em Éramos Dois, por exemplo, versos consumidos pela dor de um amor desfeito se completam pela base semi-funkeada que vai de encontro ao mesmo território criativo de nomes como Tagua Tagua. Já em Vinte e Muitos Anos, logo na abertura do álbum, é a combinação entre guitarras soturnas e sintetizadores enevoados que destacam os versos sempre marcados pela forte vulnerabilidade dos temas, como um claro avanço em relação ao material entregue em Cabe Mais Ainda.

Mesmo dentro dessa sequência de boas composições, algumas faixas se destacam de maneira bastante explícita. É o caso de Tudo Pra Mim. Enquanto os versos tratam sobre a necessidade de seguir em frente (“Quero ouvir você de novo só / Pra Tratar as coisas da maneira certa“), batidas e guitarras certeiras fazem lembrar de The Adults Are Talking, dos nova-iorquinos do The Strokes, porém, preservando a identidade do quinteto pernambucano. Essa mesma riqueza de detalhes se reflete em Se Você Se For, música que potencializa o uso dos sintetizadores e ainda evoca o Daft Punk da fase Random Access Memories (2013).

São composições que parecem dançar pelo tempo, apontam para diferentes campos da música, porém, estabelecem na forte carga emocional incorporada aos versos um delicado componente de aproximação entre as faixas. Dessa forma, o que poderia resultar em uma obra talvez ausente de originalidade, efeito das pequenas similaridades com diferentes registros e artistas, resulta na construção de um trabalho difícil de ser ignorado e apreciado pelo ouvinte. Um misto de dor e acolhimento sentimental, proposta que torna a experiência de ouvir as canções apresentadas em Dançando Sem Ninguém Me Ouvir sempre satisfatória.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.