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Crítica

Caribou

: "Honey"

Ano: 2024

Selo: Merge

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Four Tet e Daphni

Ouça: Honey, Dear Life e Climbing

7.6
7.6

Caribou: “Honey”

Ano: 2024

Selo: Merge

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Four Tet e Daphni

Ouça: Honey, Dear Life e Climbing

/ Por: Cleber Facchi 24/10/2024

Se em início de carreira, quando ainda se apresentava como Manitoba, Dan Snaith parecia investir em um repertório marcado pelo experimentalismo, com o passar dos anos, o produtor canadense estreitou laços com as pistas e ainda simplificou parte do processo criativo. O resultado dessa mudança de percurso está na entrega de obras cada vez mais acessíveis e deliciosamente dançantes, conceito que volta a se repetir com o lançamento de Honey (2024, Merge), novo trabalho de estúdio do artista sob a alcunha de Caribou.

Sequência ao material entregue no elogiado Suddenly (2020), o trabalho diz a que veio logo nos minutos iniciais, em Broke My Heart. Marcado pela urgência das batidas, sintetizadores e bases que ainda evocam Tom’s Diner, de Suzanne Vega, a faixa chama a atenção por conta de um elemento bastante curioso: a voz. Diferente dos lançamentos anteriores, em que desenvolvia suas composições a partir do uso de samples e artistas convidados, Snaith, auxiliado por uma inteligência artificial, agora assume integralmente os vocais.

Partindo dessa abordagem, Snaith garante ao público uma obra que naturalmente soa como suas antigas criações, porém marcada por um estranho senso de desconforto. É como se o artista emulasse a si mesmo. Exemplo disso fica bastante evidente em Come Find Me. Da construção das batidas, passando pelo uso de sintetizadores à aplicação das vozes, tudo ecoa como uma clara reinterpretação daquilo que o canadense havia explorado em Can’t Do Without You e demais canções que integram o repertório de Our Love (2014).

Apesar das semelhanças, Snaith mantém firme o ritmo e potência criativa do disco até os momentos finais. Salve exceções, como a arrastada Campfire, prevalece durante toda a execução do material a fluidez das batidas e vozes que parecem pensadas para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição. A própria faixa-título, posicionada nos minutos iniciais do registro, funciona como uma boa representação desse direcionamento. Instantes em que somos convidados pelo artista a se perder pelas pistas de dança.

Ainda assim, sobrevive nos momentos em que mais se distancia desse resultado a passagem para algumas das melhores composições do disco. É o caso de Climbing. Soando como uma canção perdida do Daft Punk, a faixa posiciona as batidas em segundo plano, destaca o uso dos sintetizadores e leva o álbum para outras direções. Surgem ainda criações como Dear Life, música que incorpora os vocais de maneira fragmentada, como um complemento rítmico que vai ao encontro do mesmo território criativo de nomes como Jamie XX.

Independente da direção explorada pelo produtor, evidente é o esforço de Snaith em garantir ao público um registro divertido, convidando o ouvinte a dançar. A própria escolha de resgatar em Volume, terceira faixa do disco, elementos de Pump up the volume, icônica composição do coletivo britânico M/A/R/R/S que alcançou o topo das paradas de sucesso em 1987, funciona como uma boa representação desse resultado. Um exercício criativo livre de grandes transformações, mas que em nenhum momento chega a desagradar.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.