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Crítica

Carlinhos Carneiro

: "Hotel Ritz"

Ano: 2025

Selo: Frase

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Bidê ou Balde e Wander Wildner

Ouça: Boletos / Burnout, Música Pop e Curso Online

7.7
7.7

Carlinhos Carneiro: “Hotel Ritz”

Ano: 2025

Selo: Frase

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Bidê ou Balde e Wander Wildner

Ouça: Boletos / Burnout, Música Pop e Curso Online

/ Por: Cleber Facchi 05/11/2025

A imagem desgastada do antigo Hotel Ritz, no centro de Porto Alegre, funciona como uma representação bastante clara daquilo que Carlinhos Carneiro busca desenvolver no primeiro trabalho em carreira solo. Utilizando um ambiente físico e, ao mesmo tempo, metafórico, o músico gaúcho que ficou conhecido pelo repertório com a Bidê ou Balde cria um cenário conceitual para a livre circulação de canções-hóspedes.

O resultado desse processo está na entrega de um álbum puramente exploratório. A própria escolha do artista em inaugurar o disco com a faixa-título do material torna isso bastante explícito. Densa, a canção que ainda se completa pela participação discreta de Catto, evidencia uma dramaticidade poucas vezes antes percebida nas criações com a Bidê ou Balde, sempre marcadas pelo bom humor e suavidade pop.

Essa mesma densidade emocional volta ainda mais dilacerante em Boletos / Burnout. Enquanto os versos tratam sobre o sufocamento de planos pessoais a partir das necessidades e responsabilidades financeiras (“Os boletos falam mais alto / Do que os sonhos que a gente tem”), a inserção ruidosa das guitarras e pianos carregados torna a composição ainda mais devastadora, reforçando a melancolia que consome o disco.

Claro que isso não interfere na entrega de canções deliciosamente pegajosas, despojadas e, naturalmente, íntimas dos antigos trabalhos do artista com a Bidê ou Balde. Dos jogos de palavras e cenas descritivas de Escritório Edifício, passando pela salvação pelo refrão em Música Pop à divertida reflexão em Metaleiro é Que Sabe Viver, sobram momentos em que o músico resgata a essência de obras como Outubro ou Nada.

Apesar desses acenos sonoros e líricos para o próprio passado, Carneiro mantém os dois pés bem firmes no presente. Em composições como a ácida Curso Online, isso se reflete no olhar atento do artista sobre a automatização dos indivíduos. Já em Pra Ter Saudade, é o contraste da letra altamente nostálgica com o frescor colaborativo da banda Supervão, um dos principais expoentes da cena gaúcha nos últimos anos.

E eles não são os únicos. Para a realização do álbum, Carneiro contou com a interferência direta da banda Os Excelentes Animais, um supergrupo constituído por diferentes instrumentistas da cena porto-alegrense. Vem justamente desse diálogo com novos parceiros criativos o estímulo para a pluralidade de estilos que movimentam o disco e levam o trabalho do músico para outras direções. Não se trata de algo exatamente novo, mas suficientemente estimulante para manter o ouvinte entusiasmado até os últimos momentos do material. As portas do Hotel Ritz estão mais uma vez abertas e, se eu fosse você, não demoraria para entrar.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.