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Crítica

Caroline Loveglow

: "Starwberry"

Ano: 2022

Selo: 100% Electronica

Gênero: Dream Pop

Para quem gosta de: Hatchie e Jay Som

Ouça: Blue Arcade e Patience Etc...

7.6
7.6

Caroline Loveglow: “Strawberry”

Ano: 2022

Selo: 100% Electronica

Gênero: Dream Pop

Para quem gosta de: Hatchie e Jay Som

Ouça: Blue Arcade e Patience Etc...

/ Por: Cleber Facchi 15/03/2022

Muito antes do isolamento causado por conta da pandemia de Covid-19, Caroline Loveglow encontrou no recolhimento da própria mente a passagem para um território marcado pela força dos sentimentos. E isso se reflete com naturalidade em toda a sequência de composições que a cantora e compositora original da cidade de Los Angeles, na Califórnia, revelou ao público nos últimos dois anos. São momentos de maior vulnerabilidade e versos consumidos pelas emoções, estímulo para a produção do fino repertório que embala o primeiro álbum da artista em carreira solo, o confessional Strawberry (2022, 100% Electronica).

Passagem para um mundo mágico, o trabalho que conta com co-produção assinada por Devon Corey (Bebe Rexha, Travor Daniel), estabelece na delicada sobreposição dos elementos o estímulo para grande parte das faixas. São canções que apontam diretamente para o som produzido no início dos anos 1990, como uma interpretação particular daquilo que Cocteau Twins, The Cranberries e outros nomes do gênero produziram durante o período. Um delicioso exercício de resgate que faz lembrar de Hatchie e outras compositoras recentes, porém, preservando a identidade que parece bastante característica de Loveglow.

E isso fica bem representado na faixa de encerramento do disco, On Earth. São pouco menos de dois minutos em que Loveglow parte de uma base econômica de sintetizadores e vozes parcialmente submersas para mergulhar em uma canção que ganha forma e cresce de forma a capturar a atenção do ouvinte. São batidas metálicas e pequenos acréscimos que garantem maior profundidade ao material. Essa mesma capacidade da artista em surpreender em um curtíssimo intervalo de tempo fica ainda mais evidente em Roxy, música que encanta pelo riff cíclico e uso calculado de cada mínimo componente instrumental.

Entretanto, a beleza do trabalho sobrevive justamente nos momentos de maior grandeza do registro. É o caso de Zenosyne, música que parte de uma base ruidosa de guitarras e sintetizadores, cresce em meio a texturas eletrônicas e pequenas sobreposições que potencializam a voz macia de Loveglow. A própria música de abertura do registro, com suas melodias inebriantes e ondulações carregadas de efeitos, sintetiza de forma enérgica tudo aquilo que a cantora busca desenvolver ao longo da obra. Um espaço onde sonho e realidade se confundem a todo instante, conceito que se reflete até o encerramento do álbum.

Interessante perceber em Blue Arcade, sexta faixa do disco, um precioso ponto de equilíbrio entre essas duas porções do registro. Enquanto os versos refletem o lirismo melancólico que sutilmente consome o disco (“Parece uma eternidade / Quando os dias se confundem / Está bem / Vá quando parecer certo“), camadas de sintetizadores, batidas e vozes se entrelaçam de forma a envolver o ouvinte. São ambientações labirínticas que encolhem e crescem a todo instante, como uma soma de tudo aquilo que Loveglow busca desenvolver ao longo da obra, porém, deixando o caminho aberto para os futuros lançamentos da cantora.

Dentro desse ambiente de reverberações nostálgicas, texturas e vozes sempre carregadas de efeitos, Loveglow entrega ao público uma obra que pouco acrescenta quando próxima de outros registros marcados pelo mesmo direcionamento estético, como o ainda recente Show Me How You Disappear (2021), de Ian Sweet, porém, encanta pelo fino acabamento e entrega da artista norte-americana. São canções ancoradas em relacionamentos fracassados, momentos de profunda entrega emocional, dor e libertação, direcionamento que embala com naturalidade a experiência do ouvinte até o encerramento do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.