Image
Crítica

Cat Power

: "Covers"

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Feist e Sharon Van Etten

Ouça: Unhate e Bad Religion

7.8
7.8

Cat Power: “Covers”

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Feist e Sharon Van Etten

Ouça: Unhate e Bad Religion

/ Por: Cleber Facchi 21/01/2022

Cat Power é um dos raríssimos casos de uma cantora em que os registros de versões costumam ser tão aguardados e celebrados quanto os trabalhos de inéditas. E não poderia ser diferente. Desde o início da carreira, a artista norte-americana tem adaptado com a obra de veteranos como Tom Waits (Yesterday Is Here), Hank Williams (Still in Love) e Bill Callahan (Bathysphere) de forma bastante sensível, exercício consolidado com o lançamento de The Covers Record (2000), de onde vieram preciosidades como Sea of Love, e no posterior Jukebox (2008), em que interpreta nomes como Bob Dylan, Joni Mitchell e Janis Joplin.

Terceiro e mais recente trabalho do gênero na discografia da artista, Covers (2022, Domino) mais uma vez evidencia o domínio e entrega de Chan Marshall como interprete. Da escolha do repertório, alternando entre interpretações de músicas empoeiradas e composições ainda recentes, passando pelo tratamento dado aos arranjos, capazes de emular fortemente a atmosfera de obras como You Are Free (2003) e The Greatest (2006), cada mínimo fragmento parece pensado de forma a envolver o ouvinte. São canções que preservam traços de suas versões originais, porém, adaptadas ao contexto doloroso da cantora.

E isso fica bastante evidente na introdutória Bad Religion. Originalmente entregue ao público no primeiro trabalho de Frank Ocean em carreira solo,Channel Orange(2012), a canção ganha forma em meio a pianos sorumbáticos, batidas e vozes sobrepostas que buscam reforçar a melancolia expressa nos versos. A mesma tentativa de aproximação com um repertório ainda recente acontece na inusitada Pa Pa Power, grande sucesso do Dead Man’s Bones, antiga banda formada pelo ator Ryan Gosling e o roteirista Zach Shields, e White Mustang, uma das composições mais sensíveis de Lana Del Rey em Lust For Life (2017).

Entretanto, é quando aponta para o passado e resgata algumas de suas principais referências criativas que Cat Power realmente diz a que veio. Perfeita representação desse resultado acontece na derradeira I’ll Be Seeing You. Eternizada na voz de Billie Holiday, grande influência de Marshall, a canção de essência reducionista sustenta nas vozes e pianos da artista um dos momentos de maior comoção do trabalho. Esse mesmo direcionamento econômico acaba se refletindo na já conhecida A Pair of Brown Eyes, composição que segue uma trilha completamente distinta do punk celta testado pelo The Pogues na versão original.

Vem justamente desse olhar curioso para o passado o estímulo para a belíssima releitura de Hate. Seguindo a tradição dos antigos registros de versões, em que resgata composições espalhadas pela própria discografia, Marshall investe na produção de um material que amplia de forma significativa tudo aquilo que foi apresentado há quase duas décadas. Do uso das vozes ao tratamento dado aos arranjos, difícil não se deixar conduzir pela força da canção, agora batizadas de Unhate. É como um precioso exercício de redescoberta, sensação que embala a experiência do ouvinte durante toda a execução do trabalho.

Nesse sentido, Covers cumpre todas as funções de um típico registro do versões. Partindo da criativa combinação de ideias e referências que apontam para diferentes campos da música, Marshall entrega ao público uma obra que costura passado e presente de forma sempre particular. São canções que apontam para personagens importantes do cancioneiro norte-americano, como Kitty Wells (It Wasn’t God Who Made Honky Tonk Angels) e Bob Seger (Against the Wind), porém, sempre pontuadas por momentos de maior frescor, conceito que tem sido explorado e aprimorado pela cantora desde o primeiro trabalho do gênero.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.