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Crítica

Cate Le Bon

: "Michelangelo Dying"

Ano: 2024

Selo: Mexican Summer

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Aldous Harding e Jenny Hval

Ouça: Is It Worth It (Happy Birthday) e Ride

8.0
8.0

Cate Le Bon: “Michelangelo Dying”

Ano: 2024

Selo: Mexican Summer

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Aldous Harding e Jenny Hval

Ouça: Is It Worth It (Happy Birthday) e Ride

/ Por: Cleber Facchi 21/10/2025

Enquanto estreitava laços com diferentes artistas e assumia a produção de obras lançadas por nomes como Wilco, Devendra Banhart e Horsegirl, Cate Le Bon precisou lidar com um amargo processo de separação e mudança para Cardiff, no País de Gales, após anos vivendo na Califórnia. Com um disco já em andamento e inclinada a seguir em frente, Le Bon decidiu abandonar tudo e, enfim, refletir sobre esse momento de dor.

Vem justamente desse período melancólico experienciado pela artista galesa o estímulo para o repertório de Michelangelo Dying (2025, Mexican Summer). Sequência ao material apresentado em Pompeii (2022), o registro de dez faixas é tanto um delicado exercício de exposição emocional da cantora como um laborioso documento estilístico que concentra o que há de mais característico na produção da multi-instrumentista.

Quarta faixa do disco, Is It Worth It (Happy Birthday) sintetiza isso de forma bastante eficiente. Enquanto os versos tratam sobre culpa, dor e perda de identidade a partir do fim de um relacionamento, ambientações cíclicas e bases sobrepostas traduzem musicalmente a sensação de luto afetivo que consome o trabalho. É como se uma constante sensação de sufocamento tomasse conta dos arranjos, estruturas rítmicas e versos.

Não se trata de algo exatamente inédito, afinal, muitos dos elementos incorporados em Michelangelo Dying têm sido explorados pela cantora galesa desde o amadurecimento artístico em Reward (2019). A diferença está na maneira como Le Bon se deixa consumir pelas emoções, rompendo com a aparente tecnicidade e frieza ocasional que costuma orientar o trabalho de produtores quando decidem se aventurar em estúdio.

A própria escolha em fazer de Heaven Is No Feeling a primeira composição de trabalho do disco torna isso ainda mais evidente. São vozes melancólicas que se espalham em meio a guitarras soturnas e um saxofone solitário, destacando a letra que trata de um relacionamento esgotado, em que desejo, silêncio e distância se misturam a ressentimento. Um misto de dor e libertação que acompanha o ouvinte até os minutos finais.

Embora parta de um exercício solitário de Le Bon, Michelangelo Dying mantém o aspecto colaborativo da artista. Além de velhos parceiros, como o saxofonista Euan Hinshelwood e o músico H. Hawkline, o disco ainda se abre para a percussão detalhista de Valentina Magaletti e vozes de John Cale, na sombria Ride. Interferências pontuais, mas que ajudam a expandir o doloroso universo temático proposto pela cantora.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.