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Crítica

Cátia de França

: "No Rastro de Catarina"

Ano: 2024

Selo: Tuim Discos

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Juçara Marçal e Josyara

Ouça: Fênix, Malakuyawa e Espelho de Oloxá

7.8
7.8

Cátia de França: “No Rastro de Catarina”

Ano: 2024

Selo: Tuim Discos

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Juçara Marçal e Josyara

Ouça: Fênix, Malakuyawa e Espelho de Oloxá

/ Por: Cleber Facchi 14/05/2024

Aos 77 anos, Cátia de França vive uma fase tão inventiva quanto em início de carreira. “Agora sei porque o velho sozinho fala / Sua alma trabalha / Sua experiência não cala“, canta em Malakuyawa, sétima canção de No Rastro de Catarina (2024, Tuim Discos) e uma perfeita representação da mente inquieta e intenso desejo criativo que move a obra da multi-instrumentista, cantora e compositora paraibana. São faixas que vão de um canto a outro, sempre de maneira imprevisível, destacando a potência da artista de João Pessoa.

Primeiro disco de inéditas da cantora em oito anos, o sucessor de Hóspede da Natureza (2016) foi gravado “em casa”, no Estúdio Peixeboi, em João Pessoa, e contou apenas com instrumentistas paraibanos durante toda sua gestação. O resultado desse processo está na entrega de uma obra que deixa a artista confortável, porém, nunca entregue ao conforto. Sempre contestadora, de França continua a explorar questões sociais, raciais e de gênero com uma habilidade única, tensionando a experiência do ouvinte ao longo do trabalho.

No meio da praça / Que existe aqui dentro / Me vejo em protesto / Nem tô me cabendo“, canta a musicista que a todo momento rompe com o comodismo da idade, seguindo como uma adolescente interessada nas “demandas do mundo” e sempre atenta à “mudança dos ventos“. A própria canção de abertura do disco, Fênix, funciona como uma boa representação desse caráter mutável e continuo processo de transformação que orienta a autora de obras fundamentais da nossa música, como 20 Palavras ao redor do Sol (1979).

Essa mesma riqueza de ideias acaba se refletindo não apenas na construção dos versos, mas no esforço da artista em transitar por diferentes estilos ao longo do trabalho. Acompanhada de Cristiano Oliveira (viola, violão e violão de aço), Marcelo Macêdo (guitarra e violão de aço), Elma Virgínia (baixo acústico, fretless e baixo elétrico), Beto Preah (bateria e percussão) e Chico Correa (sintetizadores e samples), que também assina a produção do registro com Marcelo Macêdo, de França passeia com total liberdade pelo material.

Em Academias e Lanchonetes, por exemplo, é o rock em sua forma mais pura e fluida que acompanha os versos sempre pertinentes da artista. Caleidoscópio de cores, ritmos e sensações, Negritude, posicionada logo nos minutos iniciais do disco, é outra que chama a atenção pela riqueza dos elementos contrastantes, como a viola quase bucólica e os sintetizadores futurísticos. Há espaço até mesmo para um misto de tango e bolero em Veias Abertas, composição que mais uma vez amplia os horizontes da musicista paraibana.

Não por acaso, ao se distanciar de toda essa pluralidade de elementos, de França acaba esbarrando em algumas das canções menos interessantes do disco. São faixas como Meu Pensamento II que, apesar da letra caprichada, pouco acrescenta musicalmente, sendo incapaz de traduzir nos arranjos aquilo que se materializa nos versos. Entretanto, mesmo nesses momentos de menor impacto, a cantora paraibana nunca perde o fôlego, esbanjando uma energia e entrega compatível com a de uma artista em início de carreira.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.