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Crítica

Caxtrinho

: "Queda Livre"

Ano: 2024

Selo: QTV

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Nergo Leo e Saskia

Ouça: Papagaio e Merecedores

8.3
8.3

Caxtrinho: “Queda Livre”

Ano: 2024

Selo: QTV

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Nergo Leo e Saskia

Ouça: Papagaio e Merecedores

/ Por: Cleber Facchi 03/09/2024

As diferentes camadas e divisões que formam a imagem de capa de Queda Livre (2024, QTV), uma pintura do artista plástico Arjan Martins, ajudam a entender parte dos temas e do processo adotado por Paulo Vitor Castro, o Caxtrinho, no primeiro álbum de estúdio da carreira. Longe de possíveis protagonistas, o músico de Belford Roxo se aprofunda nas histórias que acontecem em paralelo. São olhares passageiros, ainda que bastante pertinentes, sobre as vidas separadas por linhas sociais, econômicas e principalmente raciais.

Exemplo disso fica mais do que evidente na introdutória Cria de Bel. “Subiu na condução e vai trabalhar / Chega lá no centro com a pele marrom / Cria da baixada / A brancaiada logo encara“, detalha o artista em um misto de canto e rima. São versos sempre descritivos e fluidos, como se uma narrativa visual fosse aos poucos se formando de maneira cinematográfica na cabeça do ouvinte. Composições que partem do olhar ao redor, por vezes despretensiosas, mas que crescem a partir da interpretação política do próprio artista.

Uma vez imerso nesse cenário marcado pelo atravessamento de informações, Caxtrinho se aprofunda no estudo de personagens, como na provocativa Branca de Trança, ou mesmo converte cenas do cotidiano no estímulo para algo maior, caso do acidente de trânsito narrado em Desastre na Pista. O mais interessante talvez seja perceber como tudo isso se acontece em um curto período de tempo. São criações complexas, mas que se resolvem de maneira quase imediata, em um curto intervalo de um a dois minutos de duração.

Essa mesma aceleração no processo de construção dos versos acaba se refletindo no tratamento dado aos arranjos. Cria do samba, Caxtrinho parte do gênero que sempre fez parte da própria família, porém trilha percursos pouco usuais no decorrer de Queda Livre. São incontáveis camadas instrumentais, improvisos e experimentações que não apenas destacam a produção delirante de Eduardo Manso e Vovô Bebê, como parecem pensadas de forma a jogar com a interpretação do ouvinte, vide faixas como a insana Papagaio.

O próprio diálogo com os mais variados parceiros criativos parece contribuir para esse resultado. Ainda que pertença a Caxtrinho, Queda Livre é um trabalho de essência coletiva. São nomes como Negro Leo, em Brankkkos, que contribuem para a contínua expansão do material. Mesmo quando desacelera, como em Marecedores, o compositor mantém firme a relação com artistas vindos de diferentes campos da música, nesse caso, Tori, Ana Frango Elétrico e Bruno Schiavo, donos das vozes que engrandecem a composição.

Não por acaso, quanto mais se distancia desse resultado e opta por uma abordagem tradicional, como em Samba Errado, Caxtrinho garante ao público algumas das canções menos interessantes do trabalho. São respiros pontuais que naturalmente desatacam o capricho do artista durante toda a execução do material, mas que parecem incapazes de causar a mesma sensação de impacto dos momentos em que o músico fluminense rompe com qualquer traço de conforto e tensiona a experiência do ouvinte de forma única.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.