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Crítica

Chanel Beads

: "Your Day Will Come”"

Ano: 2024

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Indie, Dream Pop

Para quem gosta de: Alex G e Mac DeMarco

Ouça: Police Scanner e Idea June

7.8
7.8

Chanel Beads: “Your Day Will Come”

Ano: 2024

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Indie, Dream Pop

Para quem gosta de: Alex G e Mac DeMarco

Ouça: Police Scanner e Idea June

/ Por: Cleber Facchi 20/05/2024

Your Day Will Come (2024, Jagjaguwar) é uma obra estranhíssima e, por isso mesmo, fascinante. Estreia de Shane Lavers como Chanel Beads, o registro de nove faixas estabelece logo na inaugural Dedicated To The World parte dos elementos que serão incorporados pelo compositor nova-iorquino ao longo do álbum. São vozes sempre carregadas de efeitos, arranjos de guitarras abstratos, retalhos e camadas de sintetizadores que mudam de direção a todo instante, como se Lavers brincasse com a interpretação do próprio ouvinte.

É como se o músico partisse de uma abordagem pop, incorporando elementos da música produzida nos anos 1980, 1990 e 2000, porém, utilizando de uma proposta deliciosamente fragmentada, torta. A própria Police Scanner, vinda logo em seguida, funciona como uma boa representação desse resultado. Instantes em que Leavers partilha de uma linguagem similar a de Alex G, Car Seat Headrest e outros idealizadores conhecidos pelo repertório caseiro, mas que deixa o rock em segundo plano para provar de outros ritmos.

São composições que atravessam o sophisti-pop para mergulhar no trap, orquestrações etéreas que vão do dream pop ao que há de mais rudimentar na produção eletrônica. O mais fascinante talvez seja perceber como tudo isso se dá em um intervalo de poucos segundos. São faixas essencialmente curtas, ainda que complexas. Exemplo disso fica bastante evidente na sequência formada por Idea June, com suas vozes mágicas e arranjos labirínticos, mas que logo mergulha no misto de R&B e rock cru de Embarrassed Dog.

Mesmo utilizando de uma abordagem plural, Lavers em nenhum momento se distancia do que parece ser um núcleo temático e instrumental. Enquanto os versos partilham de conflitos existenciais e momentos de maior vulnerabilidade emocional, arranjos e timbres característicos estabelecem um estranho senso de aproximação entre as faixas. Dessa forma, é possível soar como Mac DeMarco em Unifying Thought e logo explorar caminhos completamente distintos com a atmosférica faixa-título ou no rock fragmentado Urn.

Toda essa combinação de estilos resulta na apresentação de uma obra essencialmente curta e dinâmica, porém, dotada de uma complexidade única. Composição mais extensa do registro, Coffee Culture talvez seja o melhor exemplo disso. São pouco menos de seis minutos em Lavers mergulha na produção de um material marcado pelo refinamento técnico, tendendo ao jazz e à música de câmara, mas que em nenhum momento se entrega ao conforto. Em Your Day Will Come, há espaço para tudo, menos para o ordinário.

E esse aspecto provocativo acaba se refletindo até os minutos finais do trabalho, em I Think I Saw. Talvez contida e até mesmo linear quando próxima de outras criações ao longo do registro, a faixa inaugurada em meio a arranjos de cordas logo se transforma, trata das vozes como um instrumento complementar e, mais uma vez, leva o registro para outras direções. É como se em posse do comum, Lavers fosse tensionado a seguir o oposto, proposta que faz de Your Day Will Come um disco talvez confuso, mas nunca entediante.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.