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Crítica

Charme Chulo

: "O Negócio É o Seguinte"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Nevilton e Bemti

Ouça: Nem a Saudade e Tudo Química

8.5
8.5

Charme Chulo: “O Negócio É O Seguinte”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Nevilton e Bemti

Ouça: Nem a Saudade e Tudo Química

/ Por: Cleber Facchi 27/09/2021

Perto de completar duas décadas de formação, a Charme Chulo continua tão relevante hoje quanto na época em que foi criada. E não falo isso apenas em um delírio bairrista de um paranaense que se viu apaixonado pelo grupo curitibano logo no primeiro trabalho de estúdio, de onde vieram faixas como Mazzaropi Incriminado e Piada Cruel, mas porque não existe nenhum banda hoje que dê conta de tamanha pluralidade de conceitos com a mesma consistência que abastece a obra do quarteto formado por Igor Filus (voz), Leandro Delmonico (viola, guitarra e voz), Hudson Antunes (baixo) e Douglas Vicente (bateria).

Um dos poucos sobreviventes de uma geração que revelou nomes como Superguidis, Poléxia, Wonkavision, Ecos Falsos, Moptop, Terminal Guadalupe e outros tantos grupos há muito extintos, o quarteto curitibano continua a investir na construção de faixas que alternam entre o regionalismo bucólico e temáticas urbanas, sempre pontuadas por questões existencialistas e sentimentais. São personagens fictícios, porém, intimamente conectados ao ouvinte, estrutura que assume novo e inusitado tratamento nas canções de O Negócio É o Seguinte (2021, Independente), quarto e mais recente trabalho de inéditas da banda.

Menos urgente em relação ao material entregue no antecessor Crucificados Pelo Sistema Bruto (2014), obra que colide a essência punk de Crucificados Pelo Sistema (1984), estreia do grupo paulistano Ratos de Porão, com Aqui o Sistema é Bruto (2004), de Chitãozinho & Xororó, O Negócio É O Seguinte mais uma vez reflete a poesia atenta e sempre provocativa de Filus. Do momento em que tem início, na já conhecida Nem a Saudade, até alcançar a derradeira Mais Além, cada mínimo fragmento do álbum se espalha em meio a inquietações, romances fracassados, medos e momentos de maior angústia vividos pelo compositor.

Exemplo disso fica bastante evidente na dobradinha composta por Tudo Química e Feio Favorito, logo na abertura do disco. São pouco menos de oito minutos em que o artista paranaense discute o peso da depressão, a necessidade de seguir em frente e a realidade maquiada pelas redes sociais. “Você só quer tirar fotos / E me pede pra sorrir / É tudo química felicidade eu sei / Leva pra longe a tristeza do Jeca Tatu“, canta em meio a arranjos deliciosamente nostálgicos, estrutura que preserva a essência do quarteto paranaense, sempre influenciado por nomes como The Smiths e veteranos do cancioneiro popular.

A principal diferença em relação aos antigos trabalhos da banda, em essência guiados pela forte temática sertaneja, está no esforço do quarteto em provar de novas possibilidades em estúdio. Ainda que isso fique bastante evidente em Rabo de Foguete, composição que aponta para a música produzida no Norte do país, sobrevive no minimalismo de Quando Não Depende da Gente, minutos à frente, um curioso elemento de ruptura criativa. São ecos de Kings of Convenience e Belle and Sebastian, como uma parcial fuga do universo particular do grupo. “De uns tempos pra cá aprendi / Conselho não funciona assim / Cansa falar, melhor se afastar pra não ficar pior“, canta Filus em meio a arranjos de cordas e batidas econômicas.

Essa mesma riqueza de ideias acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra. Do pop cantarolável de Balanço Qualquer à sonoridade caipira de Eu Não Sei Amar, cada composição do disco parece transportar o ouvinte para um novo território criativo. São canções que transitam por diferentes possibilidades criativas de forma essencialmente coesa, estrutura que se completa pela produção do experiente Rodrigo Lemos (Poléxia, A Banda Mais Bonita da Cidade), passa pela interferência de Diego Kovalski (acordeão) e Rodrigo Nickel (saxofone), e cresce no completo domínio do quarteto curitibano.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.