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Crítica

Chat Pile

: "God's Country"

Ano: 2022

Selo: The Flenser

Gênero: Rock, Sludge Metal

Para quem gosta de: KEN mode e The Jesus Lizard

Ouça: Pamela, Why e Grimace_Smoking_Weed.Jpeg

8.6
8.6

Chat Pile: “God’s Country” 

Ano: 2022

Selo: The Flenser

Gênero: Rock, Sludge Metal

Para quem gosta de: KEN mode e The Jesus Lizard

Ouça: Pamela, Why e Grimace_Smoking_Weed.Jpeg

/ Por: Cleber Facchi 02/08/2022

Denso, ruidoso e truculento, God’s Country (2022, The Flenser) ecoa como se uma pilha de escombros desabasse sobre o ouvinte. Estreia do quarteto norte-americano Chat Pile, o trabalho de nove faixas estabelece nas inquietações vividas por Raygun Busch (voz), Luther Manhole (guitarras), Stin (baixo) e Captain Ron (bateria) um estímulo natural para a construção do repertório que contesta o modo de vida estadunidense. São canções marcadas pelo forte discurso político e permanente sensação de decadência, estrutura que ultrapassa o limite dos versos e acaba se refletindo em cada mínimo fragmento instrumental.

Por que as pessoas têm que viver lá fora? / Em tendas, sob pontes / Vivendo sem nada e sofrendo / Por quê?“, questiona Busch em Why, música que não apenas evidencia a potência do som produzido pelo grupo de Oklahoma, como apresenta parte dos elementos que serão explorados ao longo da obra. “Por que as pessoas têm que viver lá fora? / Temos os recursos / Nós temos os meios“, reforça o vocalista em uma angustiada reflexão sobre o aumento no número de pessoas desabrigadas em diferentes cidades dos Estados Unidos, algumas delas, como Los Angeles e a cosmopolita Nova Iorque, as mais ricas do país.

Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, Wicked Puppet Dance é outra que reforça esse aspecto da marginalização de forma assustadora. “Sua pele está toda fodida, mas ele cozinhou um bom lote / Em todos os lugares nas paredes, novos bebês baratas nascem“, detalha Busch. São versos sempre descritivos, como se o músico transportasse para dentro de estúdio parte das cenas, personagens e acontecimentos vividos em qualquer centro urbano estadunidense. A própria imagem de capa e material de divulgação utilizado para promover o trabalho reforça essa sensação de abandono.

Mesmo quando se aprofunda em conflitos sentimentais e temas existencialistas, como em Anywhere, prevalece a angústia dos versos. “O espelho tem um novo rosto / Uma verdadeira alma miserável / E agora ele se foi deste lugar / Toda a matéria encontra um buraco negro“, canta. Esse mesmo resultado fica ainda mais evidente na brutal Pamela, uma dolorosa reflexão sobre a morte. “E tudo que eu toco está morto / Tudo o que eu queria se foi / Nada diante de mim além de dorEsperando para morrer“, detalha em meio a guitarras industriais e batidas sempre destacadas, intensificando a forte carga emocional da composição.

Com produção assinada pelos próprios integrantes, God’s Country estabelece nessa base atormentada um precioso componente criativo para o fortalecimento do trabalho. São canções que ganham forma em meio a blocos de ruídos e sobreposições sujas que vão dos temas industriais do Godflesh à crueza de artistas como The Jesus Lizard. Composição de encerramento do disco, grimace_smoking_weed.jpeg funciona como um bom exemplo disso. Enquanto os versos tratam sobre uma delirante experiência lisérgica, camadas de guitarras surgem e desaparecem a todo instante, como um complemento às vozes berradas de Busch.

Conceitualmente diverso em relação ao material entregue no antecessor Remove Your Skin Please EP (2019), God’s Country revela o trabalho de uma banda em permanente processo de transformação e busca pela própria identidade. Enquanto os versos evidenciam o completo amadurecimento criativo de Busch, mergulhando em temas que detalham a decadência da sociedade norte-americana, musicalmente, o grupo amplia os próprios horizontes, o que resulta na formação de faixas ainda instáveis, principalmente na segunda metade do registro. É como um campo aberto às possibilidades, proposta que faz aumentar a expectativa para o que quer que o quarteto de Oklahoma possa vir a desenvolver nos próximos anos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.