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Crítica

Chico Bernardes

: "Outros Fios"

Ano: 2024

Selo: People’s Champ

Gênero: Indie, Folk

Para quem gosta de: Tim Bernardes e Gabriel Milliet

Ouça: Assim, Metades Minhas e Sonho Meu

8.4
8.4

Chico Bernardes: “Outros Fios”

Ano: 2024

Selo: People’s Champ

Gênero: Indie, Folk

Para quem gosta de: Tim Bernardes e Gabriel Milliet

Ouça: Assim, Metades Minhas e Sonho Meu

/ Por: Cleber Facchi 05/07/2024

Outros Fios (2024, People’s Champ) é uma obra em expansão. Longe do reducionismo acústico que marca o autointitulado registro de estreia, lançado há cinco anos, Chico Bernardes se aventura na entrega de um repertório que avança aos poucos, sem pressa, porém estabelece na lenta sobreposição de cada elemento a passagem para um universo de pequenos detalhes. São canções que se aprofundam nas transformações vividas pelo compositor nos últimos anos, como um delicado exercício de exposição poética e sentimental.

Inaugurado pela já conhecida Motivo, o trabalho produzido e gravado pelo próprio artista estabelece parte dos elementos que serão incorporados no decorrer do material. São delicadas camadas instrumentais que agora se completam pelo uso destacado dos sintetizadores, como um complemento aos versos que servem de passagem direta para a mente do cantor. “E busco sentido / Enquanto preciso / Lidar comigo“, confessa Bernardes, revelando parte do lirismo atormentado e conflitos pessoais que servem de sustento ao registro.

A partir desse ponto, Bernardes se aprofunda na construção de músicas que parecem dançar pelo tempo. Em Metades Minhas, composição que se completa pelos sopros de João Barisbe, são fragmentos de antigos relacionamentos que conduzem o cantor e também o ouvinte em direção ao passado, temática solucionada minutos depois, com a necessidade de seguir em frente que se instala em Desfazer. É como um inquietante fluxo de pensamentos, porém, dissolvido em uma medida de tempo bastante particular, própria do artista.

Se por um lado essa abordagem parece comprometer o andamento do trabalho, tornando a experiência de ouvir o disco bastante arrastada em diversos momentos, por outro, destaca o sempre meticuloso processo de criação do artista. São ambientações, incontáveis camadas instrumentais e pequenas sobreposições que surgem e desaparecem a todo instante, criando a sensação de uma obra viva. A própria faixa-título, com seus quase seis minutos de duração, funciona como uma boa representação desse capricho de Bernardes.

É como se cada música tivesse uma atmosfera própria, forçando uma audição atenta por parte do ouvinte. Em Inerte, por exemplo, são captações de campo que aos poucos se completam pelo uso de um metalofone e sintetizadores dotados de uma fluidez única. Já em Assim, adornada pela percussão de Christopher Bear, doGrizzly Bear,arranjos acústicos acenam para o disco anterior, porém, assumem um percurso diferente, preparando o terreno para a chegada da posterior Todacor, encontro com a cantora mexicana Reno Rojas.

O mais fascinante talvez seja perceber como esses pequenos detalhes embalam a experiência do ouvinte até os minutos finais, em Sonho Meu, música que se encerra com uma antiga gravação do artista quando criança, reforçando a temporalidade inexata que orienta o repertório do disco. São composições dotadas de um ritmo próprio, por vezes morosas em excesso, mas nunca simplistas ou desinteressantes, indicando o cuidado de Bernardes na inserção de cada componente que dá vida, forma e profundidade ao trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.