Ano: 2024
Selo: True Panther
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Girls e Destroyer
Ouça: No Good e I Think About Heaven
Ano: 2024
Selo: True Panther
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Girls e Destroyer
Ouça: No Good e I Think About Heaven
Apesar da boa estreia em carreira solo com Lysandre (2013), Christopher Owens havia deixado um gosto amargo na boca dos ouvintes que foram impactados com os álbuns seguintes, A New Testament (2014) e Chrissybaby Forever (2015). Era como se o ex-membro da banda Girls tivesse perdido parte do refinamento técnico e sensibilidade poética explícita nos primeiros registros autorais, mergulhando em uma sequência de projetos pouco inspirados, enfadonhos e incapazes de criar qualquer forma de conexão com o público.
Não por acaso, o músico acabou se distanciando dos palcos, passou por um período de forte instabilidade financeira que o forçou a viver dentro de um carro e ainda ficou meses impossibilitado de se mexer após um grave acidente de moto. Quando se reuniu com o antigo parceiro de banda, Chet “JR” White, e começou a produzir um novo álbum de inéditas do Girls, foi surpreendido com a notícia do falecimento precoce do mesmo, quando o coração do multi-instrumentista e produtor de 40 anos parou de bater enquanto dormia.
Era como se o mundo desabasse sobre Owens. E isso fica ainda mais explícito quando nos deparamos com as canções de I Wanna Run Barefoot Through Your Hair (2024, True Panther). Primeiro trabalho do artista em carreira solo após um longo período de hiato, o material de dez faixas é tanto um aceno para os antigos registros do Girls, como um compilado das experiências vividas pelo músico nos últimos anos. Um doloroso e libertador ato criativo que evidencia toda a potência do cantor e compositor estadunidense em estúdio.
“Não, não é outra canção de amor / Não é mais uma canção onde finjo / Que tudo vai ficar bem / Eu morri no dia em que você me deixou”, canta logo nos minutos iniciais do trabalho, na introdutória No Good. São canções marcadas pela visceralidade dos versos e capacidade do artista em dialogar com o ouvinte por meio das emoções. Instantes em que Owens reflete sobre a saudade do antigo parceiro de banda (I Think About Heaven) e a própria solidão (This Is My Guitar) em um delicado exercício de exposição sentimental.
Embora doloroso na maior parte do tempo, I Wanna Run Barefoot Through Your Hair em nenhum momento parece pesar sobre o ouvinte. Parte desse resultado vem não apenas da capacidade do artista em espalhar versos iluminados pela esperança ao longo do disco, como de transportar para dentro de estúdio a mesma essência litorânea dos antigos trabalhos do Girls. São guitarras radiantes e melodias cantaroláveis que se completam pela produção caprichadíssima de nomes como Doug Boehm, Ariel Rechtshaid e Jacob Portrait.
Desse modo, mesmo que Owens dependa do que foi conquistado com o Girls e pouco avance criativamente quando próximo dos antigos trabalhos em carreira solo, difícil não ceder aos encantos do norte-americano. Do momento em que tem início, na melancolia fina de No Good, até alcançar a épica Do You Need a Friend, em que usa trechos de It Must Have Been Love, do Roxette, cada mínimo fragmento do disco se transforma em um componente avassalador, evidenciando a força que move I Wanna Run Barefoot Through Your Hair.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.