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Crítica

Cindy Lee

: "Diamond Jubilee"

Ano: 2024

Selo: Realistik

Gênero: Rock, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Dirty Beaches e Yves Tumor

Ouça: All I Want Is You, Flesh and Blood e Lockstepp

9.0
9.0

Cindy Lee: “Diamond Jubilee”

Ano: 2024

Selo: Realistik

Gênero: Rock, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Dirty Beaches e Yves Tumor

Ouça: All I Want Is You, Flesh and Blood e Lockstepp

/ Por: Cleber Facchi 22/04/2024

Diamond Jubilee (2024, Realistik) é uma obra sobre como construímos significados e trabalhamos nossas recordações a partir de experiências não necessariamente vivenciadas. Mais recente álbum de estúdio do artista canadense Patrick Flegel sob a alcunha de Cindy Lee, o registro de 32 faixas e mais de duas horas de duração é uma viagem em direção ao passado e ao som produzido nos anos 1960, porém, partindo da interpretação nostálgica de um adulto sobre suas memórias empoeiradas e sensações na década de 1990.

Sim, nasci em 1985, então eu era uma criança nos anos 1990. Eu simplesmente adorava rádio. Havia uma estação chamada 66 CFR, em Calgary, que significa Calgary Flames Radio. Eles traziam músicas antigas durante o dia e depois jogos à noite. Eu deixava isso ligado a maior parte do tempo“, revelou Flegel em uma recente entrevista. Vem justamente dessa olhar atento para o passado, emulando o estilo de composição, o posicionamento das vozes e arranjos, o estímulo para grande parte das canções que abastecem o extenso repertório montado pelo músico. Composições que parecem sintonizadas em uma antiga estação de rádio, porém, corrompidas pelo acréscimo de instrumentos e técnicas de captação que apontam para o presente.

São sintetizadores que talvez não devessem estar ali, pedais e filtros de distorção que pervertem estruturas tradicionais e todo um vasto catálogo de ideias que torna a experiência de ouvir o disco tão familiar quanto estranhamente desconcertante. É como uma jornada sentimental e estética que começa antes mesmo que o trabalho seja tocado, afinal, Flegel decidiu disponibilizar o álbum para download em uma antiga página no Geocities ou para audição contínua no YouTube, excluindo o material de outras plataformas de streaming.

Entretanto, uma vez imerso nesse estranho território criativo proposto por Flagel, difícil querer sair dele. Da fragilidade emocional que se apodera dos versos em All I Want Is You (“Tudo que tenho é a verdade / Tudo que eu quero é você“), passando pela doce psicodelia que sutilmente invade Flesh and Blood, soando como uma composição perdida do Velvet Underground, cada mínimo fragmento que abastece o disco evidencia o completo esmero do artista no processo de criação. Um volume talvez excessivo de canções, porém, tão bem elaboradas que é impossível dizer o que não deveria estar ali. Em Diamond Jubilee, tudo é essencial.

Claro que isso não faz do registro uma obra irretocável ou minimamente inovadora. Muitos dos conceitos apresentados pelo músico ao longo do material, como essa corrupção estética do que entendemos como passado, foram previamente testados por outros artistas. Um bom exemplo disso é o trabalho do Dirty Beaches, antigo projeto do taiwanês naturalizado canadense Alex Zhang Hungtai, que há mais de uma década utilizou de uma abordagem bastante similar em Drifters/Love Is The Devil (2013). O próprio Flegel já havia brincado com as guitarras de forma parecida em seu antigo projeto, o grupo de noise pop Women.

Ainda assim, tudo é incorporado de forma tão fascinante que é difícil não se deixar conduzir pelo curioso repertório montado pelo artista. Do momento em que tem início, no movimento calculado das guitarras que inauguram a faixa-título, Flegel convida o ouvinte a se perder em um território que combina passado e presente de forma sempre particular. Canções que confessam sentimentos e ainda evocam nomes como Dusty Springfield, Nancy Sinatra e The Ronettes, porém, partindo da lógica torta proposta por Cindy Lee.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.