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Crítica

Cola

: "Deep In View"

Ano: 2022

Selo: Fire Talk Records

Gênero: Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Fontaines D.C. e OUGHT

Ouça: So Excited, Water Table e Blank Curtain

7.6
7.6

Cola: “Deep In View”

Ano: 2022

Selo: Fire Talk Records

Gênero: Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Fontaines D.C. e OUGHT

Ouça: So Excited, Water Table e Blank Curtain

/ Por: Cleber Facchi 30/12/2022

Mesmo em um curto período de atuação, os canadenses do OUGHT conseguiram deixar sua marca. E isso fica bastante evidente em toda a sequência de grandes obras reveladas pelo grupo em um intervalo de dez anos, caso do introdutório More Than Any Other Day (2014), Sun Coming Down (2015) e Room Inside the World (2018). Com o fim das atividades da banda, em meados de 2021, suspeitava-se que Tim Darcy, vocalista e principal compositor, partisse definitivamente em carreira solo, vide o ensaio com Saturday Night (2017), entretanto, sobrevive nas canções do Cola o que há de melhor na obra do norte-americano.

Completo pela presença do baixista Ben Stidworthy, antigo parceiro de banda no OUGHT, e o baterista Evan Cartwright, que já colaborou com nomes como U.S. Girls, o projeto encabeçado por Darcy, que assume as guitarras e vocais, diz a que veio logo no primeiro trabalho de estúdio, Deep In View (2022, Fire Talk Records). Naturalmente íntimo de tudo aquilo que o músico havia testado com o antigo grupo, o registro de dez composições chama a atenção pela completa economia dos elementos, uso calculado das vozes e estruturas cíclicas que apontam para os primórdios do pós-punk de forma sempre particular e autoral.

A própria sequência de abertura do trabalho funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto Blank Curtain parece pensada para ambientar o ouvinte, com sua linha de baixo destacada e bateria econômica, So Excited, vinda logo em sequência, reforça a precisão do trio canadense, porém, com imponência, lembrando as criações de contemporâneos como Fontaines D.C.e Iceage. “Um tom oco de órgão sobe e sai das minhas pernas / Sinto até os ossos, me dizendo para chutá-lo para longe“, detalha Darcy em uma clara representação da euforia que aos poucos se apodera do repertório de Deep In View.

Com essas duas trilhas criativas apontadas logo nos minutos iniciais do trabalho, Darcy e seus parceiros de banda garantem ao público uma obra consistente e equilibrada. São canções que invariavelmente evocam o material produzido por veteranos como Wire e Television, mas que a todo momento regressam a um território próprio do trio canadense. Exemplo disso acontece em Water Table. Enquanto a bateria da canção parece resgatada de um disco do Joy Division, versos existenciais destacam o lirismo atormentado que consome o álbum. “Durar o suficiente para ser extinto, apenas o suficiente para pensar demais“, canta.

É como um passeio torto pela mente do próprio compositor, proposta que tem sido explorada desde a estreia do OUGHT, mas que ganha novo tratamento no reducionismo adotado pelo Cola. Criações talvez esqueléticas quando pensamos na estrutura grandiosa de músicas como Beautiful Blue Sky e Desire, porém, nunca desinteressantes e sempre imprevisíveis. A própria faixa de encerramento, Landers, com seus pianos melancólicos, destaca a capacidade do grupo em atrair a atenção do ouvinte fazendo uso de poucos elementos, direcionamento que também se reflete em preciosidades como Degree e Fulton Park.

Embora consistente com a proposta adotada pelo trio e convincente durante toda sua execução, Deep In View é um trabalho que pouco acrescenta quando próximo de outros lançamentos recentes do gênero. A própria economia adotada pelo trio, atrativa em parte expressiva da obra, invariavelmente tende ao uso de pequenas repetições e fórmulas há muito desgastadas por diferentes artistas. Felizmente, a poesia contemplativa de Darcy distancia o registro de um lugar comum, se aprofunda em crises existenciais e torna a experiência de ouvir o curto repertório de dez faixas satisfatória do primeiro ao último instante.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.