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Crítica

Dadá Joãozinho

: "Tds Bem Global"

Ano: 2023

Selo: Innovative Leisure

Gênero: Jazz, Experimental

Para quem gosta de: Negro Leo e Bebé

Ouça: Veja, Cuidado! e Ô Lulu

8.3
8.3

Dadá Joãozinho: “Tds Bem Global”

Ano: 2023

Selo: Innovative Leisure

Gênero: Jazz, Experimental

Para quem gosta de: Negro Leo e Bebé

Ouça: Veja, Cuidado! e Ô Lulu

/ Por: Cleber Facchi 11/09/2023

Tds Bem Global (2023, Innovative Leisure) é um desses discos difíceis de serem explicados em palavras. Estreia em carreira solo de Dadá Joãozinho, identidade adotada pelo cantor e compositor João Rocha, um dos integrantes da banda fluminense Rosabege, o registro estabelece na permanente desconstrução dos elementos, criativa combinação de estilos e passeios pelos mais variados campos da música o estímulo para a formação de um rico repertório que muda de direção a todo instante. São fragmentos de vozes, paisagens instrumentais que tendem ao jazz e sobreposições que jogam com a interpretação do ouvinte.

Embora regido pela imprevisibilidade e sempre inusitada costura de ritmos, o trabalho está longe de soar como uma obra inacessível ou difícil de ser interpretada. Tendo Ô Lulu como música de abertura, Rocha entrega uma série de pistas e apresenta parte dos conceitos que serão explorados ao longo do material. Enquanto elementos da letra se aprofundam no caos urbano e nas implicações capitalistas para sobreviver em uma cidade como São Paulo (“Desce, desce, desce, desce no metrô …. Quer fazer dindin’ nessa cidade do caralho“), minutos à frente, o compositor reflete sobre a saudade de casa e o peso das lembranças de uma vida pacifica que ficou para trás (“Falta o mar lá de casa / Lembro quando eu cantava lá de casa“).

É como um insano fluxo de pensamento. Um passeio torto pela mente do artista fluminense, mas que em nenhum momento ecoa de forma hermética. Parte desse resultado vem da escolha do compositor em trabalhar os versos de forma sempre descritiva, detalhando cenas, símbolos e crônicas urbanas que atravessam as ruas de uma grande metrópole até encontrar conforto no silêncio de um apartamento ou nos braços da mulher amada. Exemplo disso fica bastante evidente na colaborativa Cuidado, música que se completa pelas rimas sempre minuciosas de Alceu e as vozes complementares da cantora paulista Bebé.

Uma vez ambientado ao delirante território criativo proposto por Dadá Joãozinho, cada nova composição destaca o esforço do artista em brincar com as possibilidades dentro de estúdio. Em Cura, por exemplo, versos movidos pelo desejo esbarram em uma produção completamente torta, lembrando as criações sempre inexatas de Earl Sweatshirt. Essa mesma combinação de estilos pode ser percebida minutos à frente, em Banho, canção que vai do reggae ao jazz de forma totalmente retorcida. Nada que prejudique a construção de faixas dotadas de uma abordagem regular, como em Veja, encontro com o rapper Joca.

Se por um lado essa estranha combinação de elementos torna a experiência de ouvir o trabalho sempre atrativa, por outro, tende a consumir o material, dificultando a capacidade do ouvinte em estreitar laços com o registro. São desvios momentâneos, como em Habitual, composição que destaca a firmeza das guitarras e rompe com a atmosfera enevoada do restante do disco, além de repetições estruturais que consomem a segunda metade do álbum. Pequenos inchaços e momentos de maior desequilíbrio, mas que são prontamente solucionados pela curta duração das faixas, sempre resolvidas em pouquíssimos minutos.

Vem justamente desse poder de síntese de Rocha o grande charme do repertório de Tds Bem Global. São composições trabalhadas em um intervalo de um a dois minutos, mas que condensam diferentes décadas de referências, ritmos e preferências sem necessariamente parecer demasiado efêmeras. Da reflexão sobre consumo e sexo que invade a jazzística Sem Limitessss, passando pela poesia angustiada que invade a derradeira Exaustão! É Grande a Minha Fé!, sobram momentos em que o cantor fluminense demonstra toda sua habilidade em transitar por entre estilos sem necessariamente perder o controle da própria criação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.