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Crítica

Debby Friday

: "Good Luck"

Ano: 2023

Selo: Sub Pop

Gênero: Electropop

Para quem gosta de: FKA Twigs e Special Interest

Ouça: So Hard To Tell, I Got It e Hot Love

7.6
7.6

Debby Friday: “Good Luck”

Ano: 2023

Selo: Sub Pop

Gênero: Electropop

Para quem gosta de: FKA Twigs e Special Interest

Ouça: So Hard To Tell, I Got It e Hot Love

/ Por: Cleber Facchi 11/04/2023

De origem nigeriana, porém, criada em Montreal, no Canadá, Debby Friday encontrou no submundo da cena canadense, raves clandestinas e festas organizadas nos porões empoeirados das casas de amigos o estímulo necessário para mergulhar na carreira artística. Depois de dois EPs produzidos e lançados de maneira independente, Bitchpunk (2018) e Death Drive (2019), a cantora, compositora e produtora abre as portas para o primeiro trabalho de estúdio, Good Luck (2023, Sub Pop), um espaço conceitual em que passado e presente se cruzam a todo instante, resultando na identidade retorcida adotada pela artista.

Acompanhada pelo experiente Graham Walsh, produtor que já trabalhou com nomes barulhentos como Bully e Preoccupations, Friday diz a que veio logo nos primeiros minutos da obra, na própria faixa-título. Enquanto sintetizadores e batidas claustrofóbicas apontam a direção seguida pela artista o longo do álbum, versos divididos entre o canto e a rima, sempre carregados de efeitos, vão de encontro ao mesmo território criativo de nomes como Death Grips. É como um permanente cruzamento de informações, ritmos e vozes, proposta que ainda desemboca em uma das principais faixas do disco, a já conhecida So Hard To Tell.

Você é apenas uma jovem garota / Sozinha na cidade / Aja como se não precisasse de ajuda“, canta para si mesma enquanto bases labirínticas vão da música industrial ao dub, lembrando as criações de Santigold na segunda metade dos anos 2000. Instantes em que a cantora olha com curiosidade para o passado e combina diferentes ideias, porém, partindo de um necessário senso de atualização, conceito também reforçado na composição seguinte, I Got It, parceria com Uñas em que dialoga com a obra de nomes como Arca e Shygirl, ou mesmo Hot Love, canção que parece saída de algum disco perdido do Crystal Castles.

Passado esse momento de maior euforia que marca o bloco inicial do registro, Good Luck desacelera, porém, mantém firme o aspecto provocativo de Friday. Em Heartbreakerrr, por exemplo, a artista brinca com a fragmentação das batidas e uso maquiado dos vocais, proposta que faz lembrar das criações da dupla sueca The Knife. Logo em seguida, em What A Man, são as guitarras e efeitos que se revelam ao público em pequenas doses, transportando o disco para um novo cenário. Nada que Safe, vinda logo em sequência, não dê conta de desconstruir, regressando ao mesmo ambiente explorado no restante da obra.

Com a chegada de Let U Down, oitava faixa do disco, Friday continua a se aventurar na sobreposição de elementos, porém, destaca a sensibilidade dos versos. “Eu fui uma garota má / Em toda a minha vida / Eu fui um péssima amante / Eu fui um trituradora de sonhos“, canta em um misto de confissão e amarga aceitação da própria postura errática. Um doloroso exercício de exposição sentimental que esbarra no mesmo universo de nomes como Karen O, mas que em nenhum momento oculta a imagem da nigeriana, proposta reforçada na canção seguinte, Pluto Baby, em que mergulha fundo nos próprios tormentos.

Vem justamente dessa capacidade da artista em comunicar por meio das emoções o principal elemento de sustentação do disco. Para além do inegável do refinamento estético e permanente sobreposição de ideias, conceito que se reflete até os minutos finais, na derradeira Wake Up, a cantora utiliza de memórias de um passado ainda recente e momentos de maior vulnerabilidade para amarrar todo esse conjunto de elementos e ser oficialmente apresentada ao público. Um precioso exercício criativo que confessa algumas das principais referências da nigeriana, mas em nenhum momento parece ocultar a identidade de Friday.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.