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Crítica

Denzel Curry

: "Melt My Eyez, See Your Future"

Ano: 2022

Selo: Loma Vista

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Joey Bada$$ e Vince Staples

Ouça: Walkin e Zatoichi

8.0
8.0

Denzel Curry: “Melt My Eyez, See Your Future”

Ano: 2022

Selo: Loma Vista

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Joey Bada$$ e Vince Staples

Ouça: Walkin e Zatoichi

/ Por: Cleber Facchi 08/04/2022

Zeltron, Aquarius Killa, Black Metal Terrorist e Raven Miyagi, essa são apenas algumas dos alter egos adotados por Denzel Curry ao longo da última década. Adepto do uso de diferentes identidades dentro dos próprios registros, o artista original de Carol City, Flórida, chama a atenção em Melt My Eyez, See Your Future (2022, Loma Vista) ao se revelar por completo para o ouvinte. Mais recente trabalho em carreira solo, o sucessor de Zuu(2019) evidencia o lado intimista do rapper norte-americano, mas não menos provocativo e sempre aberto ao diálogo com colaboradores vindos dos mais variados campos da música.

Conceitualmente dividido em duas porções bem delimitadas, o registro estabelece na introdutória Melt Session #1, colaboração com o pianista Robert Glasper, a passagem para o lado mais contemplativo e doloroso do disco. São canções que funcionam como um passeio pela mente atormentada do próprio artista, como um produto das inquietações, memórias e tormentos vividos pelo rapper. “Eu vejo a forma como as pessoas são tratadas, é problemático / Eles estão prontos para nos preparar para o fracasso, é sistemático“, reflete em Walkin, composição que sintetiza parte dos temas incorporados ao longo da obra.

Mais do que uma representação dos temas que Curry busca desenvolver até a derradeira The Ills, a faixa produzida por Kal Banx (Isaiah Rashad, Jorja Smith) evidencia o refinamento estético de Melt My Eyez, See Your Future. São incontáveis camadas instrumentais, coros de vozes e arranjos cuidadosamente trabalhados em estúdio, como um avanço claro em relação ao material entregue em Zuu. Exemplo disso fica bastante evidente em Mental. Enquanto os versos tratam de questões delicadas, como depressão e suicídio, ambientações sublimes se completam pelas vozes de Bridget Perez e rimas de Saul Williams.

É como se cada composição fosse trabalhada em uma medida própria de tempo, como uma fuga da urgência explícita em Ta13oo (2018) e demais registros que apresentaram as criações de Curry a uma parcela maior do público. Claro que isso não interfere na produção de faixas marcadas pela potência das rimas e uso destacado das batidas. Sobrevive justamente nesse direcionamento criativo o estímulo para a porção seguinte da obra. São canções que rompem com a atmosfera contemplativa do bloco inicial, apontam de forma esperançosa para o futuro e ainda transportam o ouvinte para um novo território.

Perfeita representação desse resultado fica bastante evidente em The Smell of Death, faixa que cresce na produção atenta de Thundercat, e Sanjuro, composição que destaca algumas das principais referências de Curry, como a cultura de animes e o fascínio do rapper pela obra de MF DOOM (1971 – 2020). Nada que se compare ao material entregue na já conhecida Zatoichi. Pouco mais de três minutos em que o artista utiliza da permanente aceleração das batidas como estímulo para a construção das rimas. Um delirante exercício criativo que se completa pela bem-sucedida participação de slowthai, com quem divide a canção.

Mesmo utilizando dessa permanente convergência de ideias, divisão do trabalho em blocos específicos de canções e colaborações que dialogam com diferentes artistas, como Rico Nasty (Ain’t No Way), Karriem Riggins (Angelz) e T-Pain (Trouble), Curry entrega ao público uma obra equilibrada. É como um acumulo natural, por vezes previsível, de tudo aquilo que o rapper tem explorado desde o início da década passada, porém, partindo de uma abordagem essencialmente madura. Composições que funcionam como um precioso exercício de exposição sentimental, estreitando de forma sensível a relação com o ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.