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Crítica

Dingo

: "A Vida É Uma Granada"

Ano: 2022

Selo: Rockambole

Gênero: Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Maglore e Tagua Tagua

Ouça: A Vida É Uma Granada e Tropeço

8.5
8.5

Dingo: “A Vida É Uma Granada”

Ano: 2022

Selo: Rockambole

Gênero: Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Maglore e Tagua Tagua

Ouça: A Vida É Uma Granada e Tropeço

/ Por: Cleber Facchi 16/11/2022

É sempre muito reconfortante ser apresentado a um novo álbum dos gaúchos da Dingo, ex-Dingo Bells. Mesmo que muitas das canções girem em torno de um mesmo universo temático, se aprofundando nas dores e prazeres da vida adulta, tudo é tratado com tamanho cuidado que é difícil não se deixar seduzir pelo som produzido por Rodrigo Fischmann (voz e bateria), Felipe Kautz (voz e baixo), Fabricio Gambogi (voz e guitarra) e Diogo Brochmann (voz e guitarra). Terceiro e mais recente trabalho de estúdio produzido pela banda de Porto Alegre, A Vida É Uma Granada (2022, Selo Rockambole) é um bom exemplo disso.

Do refinamento dado aos vocais, passando pelo tratamento que marca a construção dos arranjos, melodias e versos, cada mínimo fragmento do trabalho parece cuidadosamente pensado pelos integrantes da banda. É como um acumulo natural de mais de duas décadas de carreira, mas que em nenhum momento perde o frescor e precioso senso de atualização. A própria música de abertura, escolhida para dar nome ao disco, funciona como uma boa representação desse resultado. Instantes em que o quarteto gaúcho parte do cenário de pandemia para mergulhar nas pequenas incertezas da vida. “Mesmo se eu tivesse o dom da previsão / Não poderia ler na sua mão / Que a vida é uma granada / E ainda não vimos nada“, reflete.

Esse mesmo aspecto contemplativo ecoa em diversos outros momentos ao longo do trabalho. “Nem tudo é deserto / Apenas perguntas / Não vão responder“, canta Fischmann na agridoce Eu Em Busca de Mim, música que sintetiza parte do lirismo existencial que ecoa durante toda a execução do registro. Mesmo quando esbarra em questões sentimentais, como em Tropeço, delicada parceria com a cantora Paola Kirst, se destaca a poesia reflexiva, sempre minuciosa, como uma soma das angústias vividas por diferentes indivíduos. “E pra quem disser que foi tropeço / Eu digo não / Todo fim também é um recomeço“, canta.

Obviamente, esse parcial recolhimento em nada interfere na construção de faixas marcadas pela euforia. Como tudo aquilo que o grupo gaúcho tem explorado desde os trabalhos anteriores, Maravilhas da Vida Moderna (2015) e Todo Mundo Vai Mudar (2018), prevalece em A Vida É Uma Granada o esforço em transitar por entre estilos e diferentes temáticas de forma sempre curiosa. Já conhecida do público, Doce Delírio talvez seja a composição que melhor representa isso. Enquanto os versos soam como um convite (“Abram a roda da fogueira / Quero entrar / Gosto de sol que queima a boca / Doce delírio“), camadas de guitarras e arranjos de cordas apontam para o pop dos anos 1970, lembrando a obra de Lincoln Olivetti.

Partindo desse colorido cruzamento de informações, cada composição se transforma em um objeto de destaque. Enquanto algumas avançam em uma medida própria de tempo, detalhando o refinamento estético do quarteto, caso da contida Eu Cheguei de Longe, outras, como Lindo Não, se revelam por completo logo em uma primeira audição. São canções que partem sempre de uma estrutura bastante característica da banda, mas que se completam pela inserção de arranjos de cordas, sopros e vozes em coro, tratamento que se reflete até os minutos finais, na abordagem grandiosa de Pra Aliviar o Peito.

Nesse misto de conforto e fino toque de transformação, A Vida É Uma Granada chama a atenção pela capacidade do quarteto em mais uma vez dialogar por meio das emoções, temas e sentimentos sempre universais. Do momento em que tem início, na já citada faixa-título, passando pela criação de músicas como Parabólicas, Desconstrução do Ser e demais preciosidades que embalam a experiência do ouvinte até os minutos finais, são os versos, sempre adornados pela minúcia dos arranjos, que estreitam relações, detalham tormentos intimistas e destacam a sensibilidade e esmero que parece tão característico do grupo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.