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Crítica

DJ Guaraná Jesus

: "Ouroboros"

Ano: 2025

Selo: Seloki Records

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Squarepusher e Aphex Twin

Ouça: Vitalwaterxxfly3 e Campari Devochka

8.2
8.2

DJ Guaraná Jesus: “Ouroboros”

Ano: 2025

Selo: Seloki Records

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Squarepusher e Aphex Twin

Ouça: Vitalwaterxxfly3 e Campari Devochka

/ Por: Cleber Facchi 04/06/2025

É impressionante a capacidade que o produtor Julio Santa Cecília tem de ambientar o ouvinte mesmo em um curto intervalo de tempo. Em Ouroboros (2025, Seloki Records), trabalho que marca a estreia do artista como DJ Guaraná Jesus, cada nova faixa se articula em um espaço de poucos segundos, tempo suficiente para sermos conduzidos em direção ao passado, contudo mantendo os dois pés ainda firmes no presente.

Esse jogo temporal, explícito logo no título da obra, com o símbolo da serpente mordendo a própria cauda em uma clara representação da ciclicidade da vida e o conceito de eterno retorno, é justamente o segredo para entender o universo criativo proposto pelo artista fluminense. Canções que encontram na eletrônica produzida na década de 1990 o estímulo para um repertório tão nostálgico e referencial, quanto futurista.

Exemplo disso fica mais do que evidente em Vitalwaterxxfly3. Escolhida para inaugurar o disco, a faixa é tanto um diálogo com a obra de veteranos como Squarepusher e Aphex Twin, como uma manifestação da identidade artística do produtor. Na contramão dos nomes que o inspiram, com suas criações extensas, Santa Cecília se articula de maneira profundamente sintética, ainda que eficiente na mesma intensidade.

Com menos de dois minutos, a derradeira Campari Devochka funciona como uma boa representação desse resultado. Perceba que, mesmo em um curto intervalo de tempo, o produtor não economiza nos detalhes. São sintetizadores enevoados, texturas e fragmentos de vozes que instantaneamente evocam nomes como Boards of Canada, porém, mantendo firme a fluidez e evidente dinamismo adotado pelo artista fluminense.

Naturalmente, essa ausência de apego e escolha do produtor em finalizar parte expressiva das canções de maneira emergencial tem seus riscos. Firenzi dolce vitta, por exemplo, parece muito mais uma tentativa do artista em navegar pela big beat de Fatboy Slim e The Chemical Brothers do que uma criação completa. O mesmo acontece em brsl, composição que esbarra no dubstep de Skrillex de forma incompleta e efêmera.

Ainda assim, é nesse risco calculado que reside parte do encanto de Ouroboros. Ao privilegiar a sugestão em vez da conclusão, DJ Guaraná Jesus convida o próprio ouvinte a ocupar os espaços vazios deixados em suas criações. São canções como Unidade de Medida, XP e a doce hausss _hypa _vvvvque mais ocultam do que parecem revelar, tornando a experiência de ouvir o trabalho deliciosamente instintiva e fragmentada.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.