Image
Crítica

Dua Lipa

: "Radical Optimism"

Ano: 2024

Selo: Warner

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Selena Gomez e Miley Cyrus

Ouça: Houdini, Illusion e Training Season

6.8
6.8

Dua Lipa: “Radical Optimism”

Ano: 2024

Selo: Warner

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Selena Gomez e Miley Cyrus

Ouça: Houdini, Illusion e Training Season

/ Por: Cleber Facchi 09/05/2024

Nos meses que antecedem o lançamento de Radical Optimism (2024, Warner), Dua Lipa deu uma série de entrevistas em que comentava o fascínio pela produção eletrônica dos anos 1990 e o quanto obras como Screamadelica (1991), do Primal Scream, foram essenciais para o desenvolvimento do terceiro trabalho de estúdio da carreira. Era como um movimento natural após a passagem pelo pop empoeirado da década de 1980, estímulo para o fino repertório de Future Nostalgia (2020) e um avanço lógico na carreira da cantora.

O problema é que isso parece ter ficado apenas no discurso. Salve canções pontuais, como Maria, com suas distorções sintéticas que evocam Madonna em Ray of Light (1998), o que percebemos em Radical Optimism é um trabalho que atira para todas direções e acerta em poucas delas. A própria mudança de identidade visual no meio da divulgação do registro, que antes usava da temática do espelho e acabou em alto mar, funciona como uma boa representação desse confuso processo de montagem e apresentação do material.

Ainda assim, tratar Radical Optimism como um tropeço na carreira da cantora seria um erro enorme. Perto de outros exemplares recentes do gênero, o terceiro álbum da artista inglesa não apenas se destaca, como revela ao público uma série de boas canções. A própria End Of An Era, logo na abertura do disco, surge como um convite irrecusável a se jogar nas pistas e ainda antecipa diferentes elementos que serão melhor explorados ao longo da obra, como a característica linha de baixo, arranjos e percussão sempre destacada.

Parte desse resultado vem da decisão corajosa da cantora em romper com o time de produtores de Future Nostalgia e estreitar laços com novos parceiros criativos. É o caso de Kevin Parker. Nome aos comandos do Tame Impala, o instrumentista australiano não apenas interfere ativamente no processo de composição do material, como deixa sua marca em músicas como Houdini e Training Season, vide os teclados psicodélicos e batidas eletrônicas que parecem resgatadas de registros como Currents (2015) e The Slow Rush (2020).

Quem também dá as caras é Danny L Harle, que trabalhou em cada uma das onze faixas do disco, porém, parece sufocado criativamente, incapaz de exibir o mesmo brilhantismo explícito em outros exemplares recentes em que esteve diretamente envolvido, como Desire, I Want To Turn Into You (2023), de Caroline Polachek. É como se para cada boa canção que integra o registro, como a viciante Illusion, outras duas composições seguissem o caminho oposto, permanecendo em um meio termo que beira o esquecimento.

Mesmo pontuado por momentos de maior instabilidade, louvável é o esforço da artista em não se repetir criativamente em Radical Optimism. Do diálogo sutil com a eurodance dos anos 2000, em Falling Forever, passando pelos momentos em que flerta com o pop psicodélico, cada nova faixa leva o ouvinte para outras direções sem depender do revivalismo oitentista explícito no disco anterior. Composições que vão de um canto a outro de maneira talvez confusa e indecisa, porém, totalmente livres de qualquer traço de conforto.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.