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Crítica

Ducks Ltd.

: "Modern Fiction"

Ano: 2021

Selo: Carpark Records

Gênero: Indie Rock, Jangle Pop

Para quem gosta de: Real Estate e Beach Fossils

Ouça: 18 Cigarettes e How Lonely Are You?

8.0
8.0

Ducks Ltd.: “Modern Fiction”

Ano: 2021

Selo: Carpark Records

Gênero: Indie Rock, Jangle Pop

Para quem gosta de: Real Estate e Beach Fossils

Ouça: 18 Cigarettes e How Lonely Are You?

/ Por: Cleber Facchi 13/10/2021

Ouvir as canções de Modern Fiction (2021, Carpark Records) é como se transportar para o passado. Entre guitarras altamente melódicas e versos cantaroláveis, mesmo que consumidos pela dor, Tom McGreevy (voz, guitarras, baixo, teclados) e Evan Lewis (guitarra, baixo, bateria) fazem do primeiro álbum de estúdio do Ducks Ltd. um precioso exercício criativo que resgata, adapta e amplia tudo aquilo que diferentes artistas produziram no início dos anos 1980. São canções que evocam a obra de veteranos como Orange Juice, R.E.M. e The Smiths, porém, preservando a identidade da dupla original de Toronto, no Canadá.

E isso fica bastante evidente nas inquietações que consomem a introdutória How Lonely Are You?. Entre guitarras timbrísticas que fazem lembrar das criações de Johnny Marr, McGreevy questiona: “Quão solitário você é? / Parece certo? / Onde você está?“. Pouco menos de três minutos em que a dupla evidencia parte das angústias, medos e sentimentos que serão explorados ao longo da obra. Um permanente cruzamento de informações e referências que potencializam tudo aquilo que os dois instrumentistas testaram em Get Bleak EP (2019), de onde vieram faixas como Gleaming Spires e As Big As All Outside.

A principal diferença em relação ao material entregue no trabalho anterior está na fluidez rítmica e busca da dupla por uma sonoridade cada vez mais acessível. Exemplo disso acontece no que talvez seja uma das principais composições do álbum, 18 Cigarettes. Escolhida para anunciar a chegada do disco, a canção de essência radiante concentra o que há de melhor no som produzido pelo duo. São guitarras e batidas que se entrelaçam de forma a alavancar os versos sempre melancólicos de McGreevy. “Eu queria que as coisas ficassem / Como eles não ficariam / Eu pediria que você explicasse Mas não é problema seu“, canta.

Essa mesma energia e evidente dinamismo no processo de construção do trabalho acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra. É o caso da sequência formada por Under the Rolling Moon e Fit to Burst. Pouco mais de seis minutos em que o duo canadense vai do pop litorâneo dos anos 1960 ao rock da década de 1980 de forma totalmente descomplicada. A própria Old Times, logo nos minutos iniciais do registro, mostra a potência do som produzido por McGreevy e Lewis, proposta que faz lembrar de nomes como Real Estate, Beach Fossils e outros artistas dotados de uma sonoridade bastante similar.

Interessante notar que mesmo marcado pela urgência dos elementos, Modern Fiction está longe de parecer uma obra simples. Do momento em que tem início, na já citada How Lonely Are You, até alcançar a derradeira Grand Final Day, perceba como a dupla se concentra na produção de faixas sempre detalhista. São incontáveis camadas instrumentais que ampliam os horizontes do trabalho. Perfeita representação desse resultado acontece em Always There, composição que vai de encontro ao rock empoeirado de artistas como Dire Straits, porém, cresce no uso de arranjos de cordas orquestradas por Paul Elrichman.

Repleto de participações especiais, como os integrantes da banda neozelandesa The Beths, responsáveis pelas vozes de apoio em diferentes composições, Modern Fiction é o típico caso de uma obra que encanta em uma escuta superficial, porém, parece maior e mais complexa quando observada de forma atenta. São canções que costuram décadas de referências e confessam sentimentos de forma sempre pulsante, como um avanço natural em relação ao material entregue pela dupla durante o lançamento do introdutório Get Bleak. Um misto de passado e presente que ainda aumenta a expectativa para o que está por vir.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.