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Crítica

Ethel Cain

: "Willoughby Tucker, I'll Always Love You"

Ano: 2025

Selo: Daughters of Cain

Gênero: Rock, Slowcore

Para quem gosta de: Lana Del Rey e Midwife

Ouça: Fuck Me Eyes, Nettles e Dust Bowl

7.4
7.4

Ethel Cain: “Willoughby Tucker, I Will Always Love You”

Ano: 2025

Selo: Daughters of Cain

Gênero: Rock, Slowcore

Para quem gosta de: Lana Del Rey e Midwife

Ouça: Fuck Me Eyes, Nettles e Dust Bowl

/ Por: Cleber Facchi 19/08/2025

Ethel Cain sempre seguiu em uma medida particular de tempo. Munida de narrativas cinematográficas e guitarras atmosféricas, a cantora e compositora norte-americana fez do introdutório Preacher’s Daughter (2022) a passagem para um repertório marcado por questões religiosas, medos e traumas geracionais que se revelavam aos poucos, sem pressa, ambientando o ouvinte ao doloroso universo temático da musicista.

Segundo capítulo da série de obras que devem explorar diferentes gerações de mulheres em uma mesma família cristã, Willoughby Tucker, I’ll Always Love You (2025, Daughters of Cain) traz de volta uma série de elementos que fizeram dela um dos nomes mais interessantes e cultuados da cena norte-americana, porém livre da mesma sensação de impacto que parecia orientar o trabalho da cantora durante o disco anterior.

São faixas propositadamente extensas, como uma continuação do ainda recente EP Perverts (2025), porém completas pela inserção dos versos que alternam entre o trauma autobiográfico, o delírio e o gótico rural. Um doloroso exercício de exposição sentimental, mas que na maior parte do tempo prioriza a atmosfera ao invés de narrativa, sufocando parte do conceito que vem sendo explorado por Cain desde o disco anterior.

A própria escolha da artista em concentrar os momentos mais acessíveis ou de maior libertação na porção central do trabalho, como as músicas Fuck Me Eyes, Nettles e Dust Bowl, torna esse processo de audição ainda mais confuso. Falta ao disco o mesmo equilíbrio do registro anterior, com Cain espalhando pontos de ruptura emocional, como American Teenager, Ptolemaea e Strangers, durante toda a execução do registro.

Ainda assim, é sempre fascinante perceber a forma como a artista, que cresceu rodeada por música cristã, propõe uma interpretação bastante particular sobre o pop. Os versos curtos e repetitivos estão lá, como em Tempest, porém imersos em camadas de distorção e vozes atmosféricas. É como se cada nova composição servisse de passagem para um estranho e incômodo universo criativo, talvez desvendado apenas por Cain.

Em Willoughby Tucker, I’ll Always Love You, a artista reafirma sua habilidade em criar trabalhos densos, mas também expõe as limitações de um processo que se apoia mais na construção de ambientes do que no desenvolvimento poético. Ainda que não alcance a coerência de Preacher’s Daughter, o álbum sustenta o interesse por sua singularidade estética e pelo desconforto calculado que Cain transforma em assinatura.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.