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Ano: 2021

Selo: Now-Again Records

Gênero: Folk, Jazz, Instrumental

Para quem gosta de: Baden Powell e Kiko Dinucci

Ouça: Stalagmites e Noite

8.0
8.0

Fabiano do Nascimento: “Ykytu”

Ano: 2021

Selo: Now-Again Records

Gênero: Folk, Jazz, Instrumental

Para quem gosta de: Baden Powell e Kiko Dinucci

Ouça: Stalagmites e Noite

/ Por: Cleber Facchi 07/10/2021

Mesmo quando cercado de colaboradores, como nas canções que embalam o ainda recente Prelúdio (2020), Fabiano do Nascimento sempre encontrou na solidão um precioso componente de inspiração e fortalecimento criativo da própria obra. São arranjos detalhistas, porém, tecidos pelo violão solitário do músico que nasceu e cresceu no Rio de Janeiro e hoje reside na cidade de Los Angeles, na Califórnia. Um minucioso processo de criação que ganha novo significado nas composições do quarto e mais recente trabalho de estúdio do violonista carioca, o melancólico e atmosférico Ykytu (2021, Now-Again Records).

Concebido durante o período de isolamento social, o trabalho regido em essência por Nascimento segue uma trilha conceitualmente econômica, mas não menos detalhista em relação aos primeiros registros do compositor carioca, caso do introdutório Dança do Tempo(2015) e Tempo dos Mestres (2017). São dedilhados, sobreposições e ambientações acústicas que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa. Composições que parecem lentamente sopradas pelo violão do instrumentista, conceito que dialoga de forma bastante sensível com o próprio título da álbum, do tupi-guarani, “vento”.

E isso fica bastante evidente na própria faixa-título do trabalho. Partindo de um estrutura reducionista, Nascimento convida o público a percorrer um labirinto de formas mutáveis e melodias que continuam a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento da composição. Instantes em que o músico carioca vai de encontro à obra de veteranos como Baden Powell, porém, de forma essencialmente particular, estrutura que se reflete no uso complementar das vozes e efeitos quase meditativos. É como uma interpretação etérea de tudo aquilo que o compositor tem produzido desde a estreia com Dança do Tempo.

Uma vez imerso nesse ambiente de formas enevoadas e melodias flutuantes, cada composição se transforma em um objeto a ser explorado pelo ouvinte. São incontáveis camadas instrumentais que se revelam ao público em pequenas doses. Exemplo disso acontece na sugestiva Amor e Carinho. Enquanto a base cíclica garante ritmo à canção, fragmentos de cordas e vocalizações sutis surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa. O mesmo resultado acaba se refletindo na já conhecida Stalagmites, música de essência atmosférica que encanta pelo fino cruzamento de informações e quebras ocasionais.

Claro que essa completa leveza no processo de construção do trabalho não interfere na produção de faixas marcadas pelo dinamismo e força dos elementos. Perfeita representação desse resultado acontece na sequência composta por Novo Dia e Noite. São movimentos calculados que se espalham em uma estrutura crescente, destacando cada nota ou mínimo ruído que escapa do violão de Nascimento. Outra que encanta pela fluidez dos elementos é Planalto. Pouco menos de quatro minutos em que o violonista investe na construção de um som espiralado, conduzindo com naturalidade a experiência do ouvinte.

É justamente esse equilíbrio e capacidade do artista em transitar por entre estilos que torna a experiência de ouvir o trabalho tão satisfatória. Instantes em que Nascimento parte de uma abordagem essencialmente abstrata para mergulhar em jogo de combinações instrumentais, ritmos e formas pouco usuais que resgatam parte da essência dos antigos trabalhos de estúdio. Um precioso exercício criativo que parte das inquietações e do isolamento vivido pelo compositor carioca ao longo dos últimos meses, mas que se conecta de maneira quase imediata com o ouvinte, transportado para dentro desse ambiente mágico.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.