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Crítica

Feeble Little Horse

: "Girl With Fish"

Ano: 2023

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie Rock, Noise Pop

Para quem gosta de: Wednesday e Car Seat Headrest

Ouça: Steamroller, Sweet e Pocket

8.5
8.5

Feeble Little Horse: “Girl With Fish”

Ano: 2023

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie Rock, Noise Pop

Para quem gosta de: Wednesday e Car Seat Headrest

Ouça: Steamroller, Sweet e Pocket

/ Por: Cleber Facchi 16/06/2023

Entre camadas de guitarras, texturas e ruídos, a voz doce de Lydia Slocum, sempre contrastante, repete: “Eu sei que você me quer louca / Eu sei que você me quer louca“. É partindo justamente desse cenário caótico, onde bases altamente distorcidas se completam pela força dos sentimentos, que os membros do Feeble Little Horse apresentam o segundo álbum de estúdio da carreira, Girl With Fish (2023, Saddle Creek). Sequência ao material entregue em Hayday (2021), o trabalho preserva a essência do registro que o antecede, porém, potencializa tudo aquilo que existe de mais turbulento no som da banda de Pittsburgh.

Concebido em meio a momentos de calmaria e delirante experimentação, o registro de onze faixas utiliza dessas pequenas oscilações como estímulo para o fortalecimento do álbum. São canções que parecem resgatadas de antigas fitas cassete, estabelecem diálogos com a produção dos anos 1990 e encontram no permanente atravessamento de informações um precioso componente criativo para tensionar e manipular a experiência do ouvinte durante toda a execução do material. É como uma soma do que existe de mais insano na mente de Slocum e seus parceiros de banda, Ryan Walchonski, Sebastian Kinsler e Jacob Kelley.

Nona faixa do disco, Pocket funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos funcionam como um passeio pela mente e sentimentos mais profundos de Slocum (“Um homem morto está me fodendo / E eu não posso esconder / Não consigo tirá-lo / De dentro de mim“), musicalmente o grupo joga com as possibilidades em estúdio. São ambientações sutis, guitarras e sintetizadores que se revelam ao público em pequenas doses, porém, rompem bruscamente com esse resultado de forma a arremessar o ouvinte para um território completamente hostil, conceito que se repete em outros momentos do trabalho.

Embora longe de parecer uma novidade para quem acompanha o Feeble Little Horse desde o registro anterior, chama a atenção em Girl With Fish a forma como o grupo transita por entre estilos e incorpora estruturas essencialmente complexas em um curto intervalo de duração. Com exceção da barulhenta Steamroller, com suas guitarras e atmosfera densa, todo o restante do trabalho é composto por faixas que se resolvem em menos de três minutos. São canções como Tin Man e Heavy Water que vão de um canto a outro de forma a ampliar os limites da obra, reforçando a riqueza de detalhes incorporados pelo quarteto.

O mais fascinante talvez seja perceber o quanto somos incapazes em antecipar qualquer movimento da banda. Em Slide, por exemplo, o grupo parte de uma abordagem acústica que rompe com o restante da obra, abre passagem em meio a camadas de sintetizadores psicodélicos e, minutos à frente, presenteia o ouvinte com uma soma de guitarras que se levantam como um bloco quase intransponível. É como se o quarteto seguisse em uma medida própria de tempo, estendendo ou mesmo diminuindo a duração de uma faixa com base em suas necessidades e não em atender uma estrutura esperada de criações do gênero.

Dessa forma, desafiando convenções, o grupo torna os momentos de maior leveza ainda mais interessantes, potencializando os sentimentos depositados ao longo do disco. É como uma interpretação transformada de temas e narrativas emocionais que há muito têm sido incorporadas por diferentes obras alimentadas pelo cotidiano de jovens adultos. Um espaço de convergência e criativa desconstrução dos elementos, proposta que faz aumentar a expectativa para os futuros lançamentos do quarteto, porém, garante as respostas necessárias e uma experiência essencialmente provocativa durante toda a execução do presente álbum.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.