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Crítica

Fievel Is Glauque

: "Flaming Swords"

Ano: 2022

Selo: Math Interactive

Gênero: Jazz, Art Pop

Para quem gosta de: Stereolab e Quickly, Quickly

Ouça: Save The Phenomenon e My Rebel

8.0
8.0

Fievel Is Glauque: “Flaming Swords”

Ano: 2022

Selo: Math Interactive

Gênero: Jazz, Art Pop

Para quem gosta de: Stereolab e Quickly, Quickly

Ouça: Save The Phenomenon e My Rebel

/ Por: Cleber Facchi 04/01/2023

Formado pela cantora e compositora francesa Ma Clément e o pianista e compositor estadunidense Zach Phillips, Fievel Is Glauque é um produto do acaso. Em 2018, enquanto se recuperava de uma concussão após bater um poste de luz na cidade de Bruxelas, na Bélgica, Phillips ficou aos cuidados de Clément, que havia estudado enfermagem e foi indicada pelo dono do estúdio onde o músico norte-americano vinha registrando suas sessões. Enquanto conversavam, descobriram interesses em comum e não tardaram a investir no que viria a se transformar no repertório de God’s Trashmen Sent to Right the Mess (2021).

Gravado ao vivo e de forma improvisada, utilizando técnicas e microfones de baixo custo, o trabalho logo atraiu uma pequena parcela do público, fez com que a banda fosse convidada a abrir apresentações do Stereolab em uma turnê pelos Estados Unidos e resultou em um convite do selo MATH Interactive para a produção de um primeiro registro oficial. O resultado de toda essa movimentação está na entrega do colorido repertório de Flaming Swords (2022), obra que segue de onde Clément e Phillips haviam parado no álbum anterior, porém, partindo de uma abordagem ainda mais interessante e musicalmente complexa.

Completo pela presença dos instrumentistas Anatole Damien (guitarras, baixo), Raphaël Desmarets (baixo, guitarras), Johannes Eimermacher (saxofone), Eric Kinny (pedal steel) e Gaspard Sicx (bateria), o trabalho gravado em uma única sessão destaca o domínio criativo e capacidade do grupo em testar os próprios limites mesmo em um curto intervalo de tempo. Salve exceções, como a derradeira Clues Not To Read, com mais de quatro minutos de duração, parte expressiva do trabalho se resolve de forma essencialmente rápida, reforçando a fluidez dos elementos e evidente dinamismo que embala a experiência do ouvinte.

Segunda faixa do trabalho e uma das principais composições de Flaming Swords, Save the Phenomenon sintetiza de forma bastante evidente tudo aquilo que o grupo busca desenvolver ao longo da obra. Estão lá os teclados sempre proeminentes de Phillips, a bateria imprevisível de Sicx, guitarras, sopros e uma linha de baixo que se conecta aos versos cuidadosamente encaixados por Clément. São canções concebidas em uma estrutura ascendente e espiralada, como uma soma de diferentes componentes criativos, ritmos e formas instrumentais que tão logo chamam a atenção e se revelam ao público, desaparecem por completo.

Tamanho dinamismo no processo de execução do trabalho em nenhum momento diminui o refinamento de Flaming Swords. Perceba como décadas de referências, momentos de maior experimentação e pequenas curvas orientam a experiência do ouvinte durante toda a execução do material. São canções como My Rebel, com pouco menos de dois minutos de duração, em que o grupo vai da música brasileira aos clubes de jazz de forma sempre sofisticada. Surgem ainda preciosidades como Little Bad Miracle e Boîte à Serpents, composições que desaceleram momentaneamente para valorizar os sentimentos de Clément.

Com todos esses elementos e diferentes propostas criativas dissolvidas ao longo do trabalho, Flaming Swords cresce como um registro que não apenas exige uma audição minuciosa por parte do ouvinte, como revela diferentes camadas a cada novo regresso. Claro que tamanha quantidade de informações não justifica algumas repetições e fórmulas bastante claras ao longo da obra. Observado de maneira atenta, muitas das composições partilham de uma estrutura similar, proposta que naturalmente evidencia o entrosamento gerado entre o time de instrumentistas, porém, tende a desgastar a experiência do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.