Fleezus nunca esteve tão “on” quanto em Off Mode (2023, Beatwise Recordings / Empire). Mais novo álbum do artista, o registro produzido em parceria com CESRV e Iuri Rio Branco destaca o amadurecimento lírico do rapper que desfila em uma sequência de batidas cuidadosamente encaixadas pelos dois produtores. É como uma extensão natural daquilo que fomos apresentados em Eskibaile (2020) e no bem recebido Brime (2020), porém, partindo de um evidente senso de atualização, busca por novos colaboradores e diferentes temáticas que não apenas potencializam, como ampliam de forma significativa o trabalho do paulistano.

Assim como outros tantos trabalhos que sucedem registros de estreia, Off Mode é menos centrado na dura realidade da vida periférica e muito mais voltado às conquistas de seu idealizador. Entretanto, para além da ostentação barata e talvez natural incorporada em diferentes exemplares do gênero, chama a atenção a sobriedade dos versos e firme contato do rapper com a realidade durante toda a execução do material. “Colecionando tênis e alguns desafetos / Entre AirMax e honorários, o equilíbrio é certo / E o que te deixa feliz nessa selva de concreto?“, questiona Fleezus na já conhecida Reis & Rainhas, música que sintetiza de forma bastante eficiente essa postura adotada pelo artista em cada mínimo fragmento poético do álbum.

Parte desse resultado vem do senso de coletividade e crescimento em conjunto que orienta a formação do trabalho até os minutos finais. Ainda que a imagem de capa pareça destacar Fleezus dos demais, a cada nova faixa fica evidente o esforço do artista em estreitar laços com diferentes parceiros criativos e partilhar de suas conquistas. “Só vai andar comigo quem me deu a mão“, cresce a letra de Calendário, composição que se abre para a chegada do cantor Jean Tassy, reforça parte dos temas explorados pelo rapper ao longo do material e ainda sustenta na fluidez das batidas e bases um necessário componente de renovação.

Mais do que um exercício particular, Off Mode é um ponto de encontro para diferentes nomes da cena brasileira, sejam eles antigos ou recentes. Em Responde Pra Mim, por exemplo, enquanto a letra da canção se aprofunda nos dramas diários de qualquer centro urbano, Fleezus abre passagem para o novato P.L.K. em um bem sucedido encontro com o veterano Rodrigo Ogi. Surgem ainda nomes como Coruja BC1 (Cachorrinho Branco e Preto), Yago Oproprio (Seleção Natural), Buds (Recluso) e o velho colaborador, o rapper Febem, com quem divide parte das rimas na curtinha, porém, meticulosa faixa-título do material.

Vem justamente dessa parceria com diferentes colaboradores o estímulo para a formação de pequenos respiros ao longo da obra. É o caso da deliciosa Ligação. Completa pela participação da cantora Marina Sena, com quem o rapper já havia contribuído no ainda recente Vício Inerente (2023), a composição se distancia dos temas políticos do restante do álbum, porém, evidencia a habilidade do artista em dialogar com o pop de forma bastante particular. O próprio encontro com Luccas Carlos, em Só Mais Um Gole, canção de encerramento do disco, funciona como uma boa representação da versatilidade de Fleezus.

Claro que esse esforço em ampliar o próprio campo de atuação nem sempre resulta em boas criações. Exemplo disso fica bastante evidente em De Cara, música em que deixa a rima em segundo plano se arrisca a cantar, porém, tropeça em uma composição bastante inferior ao restante do material. Surgem ainda pequenas repetições temáticas, como em Norte e Euros, mas que são prontamente transformadas pelas batidas e bases assinadas pelos parceiros de produção. Dessa forma, cada nova canção, mesmo a mais irregular, se transforma em um componente precioso, destacando a força do repertório de Off Mode.

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