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Crítica

Florist

: "Florist"

Ano: 2022

Selo: Double Double Whammy

Gênero: Indie Folk, Ambient Pop

Para quem gosta de: Big Thief e Lomelda

Ouça: 43, Sci-Fi Silence e Spring In Hours

8.3
8.3

Florist: “Florist”

Ano: 2022

Selo: Double Double Whammy

Gênero: Indie Folk, Ambient Pop

Para quem gosta de: Big Thief e Lomelda

Ouça: 43, Sci-Fi Silence e Spring In Hours

/ Por: Cleber Facchi 05/08/2022

Emily A. Sprague parece ter se especializado na produção de obras marcadas pelo caráter atmosférico e sutileza dos elementos. E isso fica bastante evidente em toda a série de registros revelados pela artista nos últimos anos, caso do ainda recente Hill, Flower, Fog (2020), em que se aventura em carreira solo no uso de ambientações sintéticas e experimentos com música eletrônica, ou mesmo no último trabalho de estúdio do Florist, o delicado Emily Alone (2019). Nada que se compare ao reencontro com os parceiros Rick Spataro, Jonnie Baker e Felix Walworth no autointitulado e mais recente álbum de inéditas da banda nova-iorquina.

Em um intervalo de quase uma hora, Sprague e seus colaboradores se aprofundam na construção de um repertório que parece pensado para envolver o ouvinte. São delicadas camadas instrumentais, vozes atmosféricas e inserções pontuais que tornam tudo ainda mais atrativo. É como se a artista seguisse de onde parou nos dois últimos registros de inéditas, porém, de forma ainda mais sensível e detalhista, esmero que vai da introdutória June 9th Nighttime, com suas captações de campo e efeitos, ao lento desvendar de informações e sopros que engrandecem a composição de encerramento do disco, Jonnie on the Porch.

Dentro desse ambiente marcado pelo reducionismo dos elementos, perceba como cada composição se apresenta ao público em uma medida própria de tempo. Uma das primeiras músicas do disco a serem reveladas pela banda, Red Bird Pt. 2 (Morning) funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos passeiam em meio a cenas e acontecimentos de forma sempre descritiva, violões detalham melodias enevoadas que se completam pelo canto de pássaros e sintetizadores cósmicos. É como se cada mínimo fragmento fosse essencial para o desenvolvimento da faixa, sutileza que acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra, como na extensa Sci-Fi Silence e Duet for Guitar and Rain.

A principal diferença em relação ao material entregue nos trabalhos anteriores, entre eles, o introdutório The Birds Outside Sang (2016) e If Blue Could Be Happiness (2017), está na forma como Sprague e seus parceiros se permitem provar de novas possibilidades e investir em um repertório pontuado por momentos de maior experimentação. São músicas como Organ’s Drone e Duet for 2 Eyes que oscilam entre a ruptura estética e o acolhimento, tensionando a experiência do ouvinte. A própria série de interlúdios, intitulada Bells, parece reforçar esse resultado. Instantes de sutil provocação que ampliam os limites do registro.

São justamente esses momentos de maior tensão criativa que tornam a experiência de ouvir o trabalho tão satisfatória. Mesmo partindo de uma abordagem serena, não são poucas as composições em que o grupo investe em uma estrutura marcada pela potência dos instrumentos. É o caso de 43. Embora utilize de uma abordagem contida nos minutos iniciais, a faixa pouco a pouco se transforma em turbilhão instrumental consumido pelos ruídos, quebras e pequenos atravessamentos, proposta que faz lembrar de Dragon New Warm Mountain I Believe in You (2022), quinto e mais recente álbum de estúdio produzido pelo Big Thief.

Dividido entre momentos de doce calmaria e faixas que parecem pensadas para bagunçar a experiência do ouvinte, o trabalho mostra o grupo nova-iorquino em sua melhor forma. Mesmo pecando pelo número excessivo da canções, algumas delas ainda incompletas, como esboços, difícil passear pelo interior do disco e não ser prontamente atraído por preciosidades como Spring In Hours, Feathers e todo o fino repertório montado pelo quarteto. Composições que partem sempre de uma abordagem econômica e enevoada, mas que revelam novas camadas e diferentes direções criativas à medida que o registro avança.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.