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Crítica

Fontaines D.C.

: "Skinty Fia"

Ano: 2022

Selo: Partisan

Gênero: Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Idles, Iceage e Shame

Ouça: Jackie Down The Line e I Love You

8.5
8.5

Fontaines D.C.: “Skinty Fia”

Ano: 2022

Selo: Partisan

Gênero: Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Idles, Iceage e Shame

Ouça: Jackie Down The Line e I Love You

/ Por: Cleber Facchi 28/04/2022

Se você fizer o exercício de ouvir os três álbuns de inéditas do Fontaines D.C. em sequência, Dogrel (2019), A Hero’s Death (2020) e o recente Skinty Fia (2022, Partisan), irá perceber uma obra bastante consistente, ainda que cada registro entregue pela banda irlandesa aponte para uma direção completamente distinta. Em uma tentativa clara de testar os próprios limites dentro de estúdio, o grupo formado por Grian Chatten (voz), Conor Deegan III (baixo), Carlos O’Connell (guitarra), Conor Curley (guitarra) e Tom Coll (bateria) utiliza desse permanente tensionar das informações, temáticas e formas poucos usuais como estímulo natural para a montagem de um repertório que parece maior e mais instigante a cada novo movimento.

Longe da crueza e evidente aceleração expressa no primeiro registro de inéditas, o quinteto de Dublin tem investido na produção de obras cada vez mais atmosféricas, soturnas e imersivas. E isso fica bastante evidente na mudança de rumo iniciada em A Hero’s Death e potencializada com a chegada do presente álbum. Do uso destacado das vozes ao tratamento dado aos arranjos, cada composição parece trabalhada em um medida própria de tempo, reforçando a densidade dos temas que se aprofundam em questões delicadas como a morte, relacionamentos fracassados, isolamento e a herança cultural dos integrantes.

A própria escolha da banda em inaugurar o disco com In ár gCroíthe go deo – em português, algo como “para sempre em nossos corações” –, parece contribuir ainda mais para esse resultado. Trata-se de uma necessária reflexão sobre a passagem do tempo, conflitos políticos e tensões sociais. Instantes em que o grupo parte de um acontecimento real, a morte de uma conterrânea que teve a lápide indeferia na Inglaterra ao utilizar de uma frase em língua irlandesa, para se aprofundar em outras discussões, conceito que acaba orientando a experiência do ouvinte até a música de encerramento do álbum, Nobokov.

São personagens, cenas e acontecimentos mundanos, mas que ganham novo tratamento e significado nas mãos do grupo irlandês. Da relação desgastada que consome os versos de Jackie Down The Line, passando pela sensação de acolhimento e repressão experienciada em Roman Holiday, cada composição evidencia o esforço do quinteto em cruzar diferentes narrativas de forma sempre detalhista, ampliando os limites da obra. Canções que deixam de percorrer as ruas úmidas da cidade de Dublin, base para o material entregue em Dogrel, para explorar diferentes cenários e inquietações vividas pelos membros da própria banda.

E essa transformação se reflete não apenas na construção dos versos, mas na busca do quinteto por novas sonoridades e diferentes direções criativas durante toda a execução do material. Exemplo disso fica bastante evidente em The Couple Across The Way, composição que utiliza de elementos da música tradicional irlandesa, porém, dentro de uma abordagem bastante característica do quinteto. A própria faixa-título, com suas batidas acinzentadas e ruídos sintéticos transporta o grupo para um novo território, lembrando a produção inglesa do final dos anos 1980 e as criações de artistas como The Stone Roses.

Mesmo músicas que preservam a essência dos antigos trabalhos da banda, como I Love You e Nobokov, ganham maior profundidade em Skinty Fia. São camadas de guitarra, texturas e ambientações sempre labirínticas, produto da consistente parceria entre o quinteto irlandês e o produtor Dan Carey (Franz Ferdinand, Bat For Lashes),com quem os integrantes do Fontaines D.C. têm colaborado em estúdio desde o primeiro registro de inéditas. Composições que seguem de onde o grupo parou há dois anos, porém, de forma ainda mais interessante e provocativa, como um precioso exercício de refinamento estético.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.