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Crítica

Godspeed You! Black Emperor

: "No Title as of 13 February 2024 28,340 Dead"

Ano: 2024

Selo: Constellation

Gênero: Pós-Rock

Para quem gosta de: A Silver Mt. Zion e Mogwai

Ouça: Raindrops Cast in Lead e Babys in a Thundercloud

8.0
8.0

Godspeed You! Black Emperor: “No Title as of 13 February 2024 28,340 Dead”

Ano: 2024

Selo: Constellation

Gênero: Pós-Rock

Para quem gosta de: A Silver Mt. Zion e Mogwai

Ouça: Raindrops Cast in Lead e Babys in a Thundercloud

/ Por: Cleber Facchi 16/10/2024

Mesmo partindo de uma abordagem essencialmente instrumental, os integrantes do Godspeed You! Black Emperor continuam a utilizar da própria obra como uma importante plataforma política. Em No Title as of 13 February 2024 28,340 Dead (2024, Constellation), oitavo e mais recente trabalho de estúdio, o coletivo canadense denuncia o número de palestinos mortos desde que Israel iniciou a invasão à Faixa de Gaza, em outubro de 2023, e o espaço de tempo que compreende a finalização do disco, em fevereiro deste ano.

Entretanto, para além desse pano de fundo conceitual, o grupo encabeçado por Efrim Menuck transporta parte dessa atmosfera opressiva para cada uma das seis composições que integram o disco. Inaugurado por Sun Is a Hole Sun Is Vapors, o álbum que conta com produção assinada por Jace Lasek ganha forma aos poucos, detalhando camadas de guitarras e ruídos ocasionais que não apenas servem para ambientar o ouvinte, como marcam o reencontro da banda após o também provocativo G d’s Pee at State’s End! (2021).

Com as ideias organizadas, o grupo abre passagem para a primeira composição de real impacto do disco, a crescente Babys in a Thundercloud. Com mais de 13 minutos de duração, a faixa parte de uma abordagem talvez contemplativa em seus momentos iniciais, mas que cresce a medida que atravessamos suas sempre densas camadas de guitarras, batidas e orquestrações acinzentadas. Instante em que o coletivo resgata a essência de obras como F♯ A♯ ∞ (1997), porém, partindo de um acabamento profundamente dramático.

É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais impactante na posterior Raindrops Cast in Lead. Tão extensa quanto a faixa que a antecede, a composição se inicia de maneira econômica, respira brevemente no uso de uma gravação em espanhol, mas logo desemboca em uma corredeira de guitarras e batidas aceleradas. São incontáveis camadas instrumentais que tanto evidenciam a força criativa do grupo em estúdio, como resgatam a potência incorporada ao repertório de ‘Allelujah! Don’t Bend! Ascend! (2012).

Passado esse momento de maior agitação, Broken Spires at Dead Kapital surge de maneira contida, porém estabelece no uso calculado das batidas e tonalidade melancólica das cordas uma passagem sombria para a posterior Pale Spectator Takes Photographs. Sufocante, a canção de onze minutos parece pesar sobre o ouvinte, transportando para dentro de estúdio a mesma atmosfera de destruição estampada nas imagens recentes que temos de Gaza. É como se todo o repertório do trabalho convergisse para esse ponto da obra.

Não por acaso, com a chegada da canção seguinte, Grey Rubble – Green Shoots, a direção percorrida pela banda se altera drasticamente. São arranjos que preservam a melancolia presente no restante do material, porém substituem a forte carga emocional por uma abordagem quase radiante, por vezes cinematográfica. É como se o coletivo buscasse de maneira consciente por uma forma de encerramento confortável para o ouvinte. Um fechamento postiço, ainda que propositadamente falso, para algo que permanece em aberto.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.