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Crítica

Gorillaz

: "Cracker Island"

Ano: 2023

Selo: Parlophone / Warner

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: The Avalanches e Beck

Ouça: Baby Queen, New Gold e Skinny Ape

7.6
7.6

Gorillaz: “Cracker Island”

Ano: 2023

Selo: Parlophone / Warner

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: The Avalanches e Beck

Ouça: Baby Queen, New Gold e Skinny Ape

/ Por: Cleber Facchi 27/02/2023

Com o tempo, o Gorillaz deixou de ser um experimento particular de Damon Albarn para se transformar em uma materialização dos diálogos, colaborações e empreitadas artísticas do compositor britânico com diferentes nomes da música pop. É como um registro momentâneo do espírito do tempo. Um espaço de interação artística que pode apresentar ou mesmo resgatar figuras importantes. Oitavo e mais recente trabalho de estúdio da banda virtual, Cracker Island (2023, Parlophone / Warner) funciona como uma boa representação desse resultado, além, claro, de revelar uma sequência de composições altamente pegajosas.

Inicialmente pensado como uma continuação do material entregue no antecessor Song Machine, Season One: Strange Timez (2020), o registro de dez faixas acaba seguindo uma trilha particular. Com a própria faixa-título como composição de abertura, uma colaboração com Thundercat, Albarn sustenta no uso de sintetizadores psicodélicos um indicativo claro de tudo aquilo que será apresentado ao longo do álbum. São ambientações delirantes que contrastam com o lirismo calcado em comentários sociais. É como uma extensão do material entregue em Plastic Beach (2010), porém, substituindo os temas ambientais por reflexões sobre o consumo excessivo de drogas, tendências fabricadas e a busca incessante pela fama.

Exemplo disso fica bastante evidente em The Tired Influencer. Enquanto camadas de sintetizadores convidam o ouvinte a flutuar, Albarn detalha a imagem de sociedade construída sobre uma base frágil, mergulhando no cotidiano ausente de propósito de um influenciador digital. “O influenciador cansado / Está dormindo profundamente, esperando por uma resposta“, canta em meio a fragmentos de diálogos com uma assistente digital. A própria Silent Running, vinda logo em sequência, funciona como uma extensão desse resultado. Instantes em que o artista, acompanhado pelo velho colaborador Adeleye Omotayo, discute a forma como vagamos hipnotizados e muitas vezes apáticos a cada novo rolar de tela pelo celular.

Mesmo quando rompe com essa estrutura e convida o ouvinte a dançar, como em New Gold, parceria com Tame Impala e o rapper Bootie Brown, Albarn preserva o aspecto provocativo dos versos. São pouco menos de três minutos em que vamos de citações ao filme Um Peixe Chamado Wanda à falsa imagem construída por multimilionários nas redes sociais, entre eles, Ellon Musk. O mesmo acontece na crescente Skinny Ape, faixa que destaca a potência das batidas, alcançando um resultado quase tribal, porém, reforçando o lirismo atento que soa como um chamado ao poder transformador das novas gerações.

Claro que isso não interfere na construção de faixas que se distanciam parcialmente desse resultado, transportando o disco para um novo território criativo. Uma das primeiras composições do álbum a serem apresentadas ao público, Baby Queen funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto preserva a identidade sonora do restante da obra, Albarn resgatar uma história curiosa, lembrando de quando, em 1997, excursionava com o Blur pela Tailândia e se deparou com a presença de uma princesa que assistiu ao show do grupo de um trono posicionado ao lado da mesa de mixagem. Na canção, o músico vive um encontro onírico com a garota, agora rainha, reforçando o aspecto delirante deCracker Island.

Pena que nem todas essas canções se justificam ou contribuem para o registro. Em Tormenta, por exemplo, aguardada colaboração com Bad Bunny, prevalece a sensação de uma música pensada para atender aos interesses da gravadora, abraçando a lógica dos algoritmos, e não necessariamente uma peça importante para o trabalho. Ainda assim, Cracker Island se revela como o álbum mais consistente do Gorillaz desde Plastic Beach. Livre dos excessos que pareciam consumir obras como Humanz (2017), Albarn reflete de maneira crítica sobre a nossa sociedade na mesma medida em que estreita relações com a música pop.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.