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Crítica

Gossip

: "Real Power"

Ano: 2024

Selo: Columbia

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Yeah Yeah Yeahs e La Roux

Ouça: Crazy Again e Real Power

7.0
7.0

Gossip: “Real Power”

Ano: 2024

Selo: Columbia

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Yeah Yeah Yeahs e La Roux

Ouça: Crazy Again e Real Power

/ Por: Cleber Facchi 08/04/2024

Passado o lançamento do esquecível A Joyful Noise (2012), parecia bastante claro que os integrantes do Gossip precisavam de um tempo longe dos estúdios. E foi exatamente isso que aconteceu. Depois de mais de uma década de atuação que resultou em ótimos registros como Standing in the Way of Control (2006) e Music for Men (2009), o grupo formado por Beth Ditto, Nathan Howdeshell e Hannah Blilie decidiu dar um tempo, possibilitando aos membros da banda que se aventurassem em outros projetos em carreira solo.

Com as energias renovadas, o grupo norte-americano retorna agora com o primeiro trabalho de inéditas em mais de uma década, Real Power (2024, Columbia). Gravado do Havaí, com o suporte do produtor Rick Rubin, com quem a banda já havia colaborado em Music for Men, o registro de onze faixas traz o trio de volta à boa forma. Estão lá as batidas deliciosamente dançantes, as guitarras funkeadas e os vocais sempre bem posicionados de Ditto, como um aceno claro para o repertório entregue ao público nos anos 2000.

A diferença em relação aos antigos trabalhos da banda, por vezes consumidos pelo escapismo excessivo, está na forma como o trio busca ampliar o uso de pautas políticas ao longo do material. Exemplo disso fica mais do que evidente na própria faixa-título do disco. Composta após os protestos do Black Lives Matter, a canção é, ao mesmo tempo, uma celebração ao poder popular e um chamado às pistas, como um retorno aos iniciais That’s Not What I Heard (2001) e Movement (2003), evidenciando a herança punk do Gossip.

Nada que inviabilize as habituais canções de amor e momentos de maior vulnerabilidade emocional que fizeram de Ditto uma figuras mais adoradas dos anos 2000. É o caso de Crazy Again. Do uso melódico das guitarras, passando pela construção dos versos, tudo parece pensado para destacar a sensibilidade da composição. “Não me convide para sua casa / Estou frágil no momento / Coração de vidro / Prefiro ficar sozinha”, canta a artista em um delicado exercício de exposição emocional que evoca Yeah Yeah Yeahs.

Embora encante pela delicadeza dos temas, são essas mesmas canções românticas e versos marcados pela fragilidade emocional que, lentamente, acabam diminuindo a sensação de impacto do trabalho. São faixas que começam interessantes, capturando a atenção do ouvinte, mas que em nenhum momento encontram um ponto de ruptura. Perfeita representação desse resultado é a balada Tell Me Something, composição que parece pronta para uma virada, mas que acaba se resolvendo em uma estrutura totalmente contida.

Ainda assim, quando próximo do disco anterior, com o trio atirando para todas as direções e errando cada um dos alvos, Real Power acaba se revelando como um trabalho bastante equilibrado. Sempre que o álbum começa a perder forças, há uma nova composição que bota a energia do material lá em cima, como Give It Up For Love, um dance-punk que faz lembrar do som de contemporâneos como The Rapture. Momentos de calmaria e doce libertação que aos poucos resgatam o que há de melhor na identidade criativa do Gossip.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.