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Crítica

Grace Ives

: "Janky Star"

Ano: 2022

Selo: True Panther / Harvest

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Nilüfer Yanya e Miya Folick

Ouça: Loose e On The Ground

7.6
7.6

Grace Ives: “Janky Star”

Ano: 2022

Selo: True Panther / Harvest

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Nilüfer Yanya e Miya Folick

Ouça: Loose e On The Ground

/ Por: Cleber Facchi 23/06/2022

Grace Ives tem um jeito todo especial de fazer música. São canções marcadas pelo reducionismo dos elementos, uso fragmentado das batidas e vozes, porém, sempre voltadas ao pop, produto direto de uma adolescência fortemente abastecida pelos trabalhos de artistas como Britney Spears e Rihanna, duas das principais referências criativas da cantora e compositora nova-iorquina. Composições que partem de uma base bastante característica, própria da jovem musicista, mas que sustentam na evidente confidencialidade e pequenas inquietações expressas nos versos um componente de imediata comunicação com o ouvinte.

E se a sua vida está uma completa bagunça, essa relação com a obra de Ives fica ainda mais explícita em Janky Star (2022, True Panther / Harvest). Sequência ao material entregue no introdutório 2nd (2019), de onde vieram composições como Icing on the CakeeMirror,o novo disco segue a trilha do material entregue há três anos, porém, se aprofunda em cenas do cotidiano, crises de ansiedade e momentos de maior vulnerabilidade. É como um convite a se perder em um universo bastante particular da artista norte-americana, direcionamento que embala a experiência do ouvinte até a chegada da derradeira Lullaby.

Eu assisto esse filme dez vezes por dia / Eu posso recitá-lo, você aperta o replay / Torço pelo amante a cada cena / Eu assisto o pôr do sol na tela“, confessa no jogo de versos que passeiam em meio a cenas e acontecimentos mundanos, mas que reforçam a forte sensação de deslocamento e melancolia que embala as criações da artista. Instantes em que Ives parece ambientar o ouvinte, atraído para dentro de um território marcado pela intimidade dos temas. “Eu olho para fotos de imóveis / Eu vejo o anúncio e mordo a isca / Eu ouço os vizinhos cantando ‘Love Galore’ / Eu faço uma divisão no chão da cozinha“, completa.

Dessa forma, Janky Star se apresenta ao público como uma obra essencialmente descompromissada, pop, mas que encanta pela profundidade dos temas. “Eu estou indo sem direção / Uma coisa que você esqueceu de me contar foi / O peso das palavras em minha língua“, reflete em On The Ground, música que evidencia as angústias de Ives, porém, cresce em meio a camadas de sintetizadores e melodias sempre acessíveis, como se pensadas para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição. São composições curtas e rápidas, mas que parecem maiores e ainda mais complexas a cada nova execução do registro.

Parte expressiva desse resultado e nítida evolução quando voltamos os ouvidos para o trabalho anterior, 2nd, vem da escolha de Ives em colaborar em estúdio com o veterano Justin Raisen. Produtor conhecido pelas criações em parceria com nomes como Charli XCX, Kim Gordon e Sky Ferreira, Raisen parece ser a pessoa indicada para potencializar o caráter acessível do registro, porém, preservando a melancolia e profundidade expressa nos versos da artista. São preciosidades como a cantarolável Angel of Business e Burn Bridges que continuam a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento de Janky Star.

Embora bem resolvido conceitualmente e marcado pela profunda sensibilidade dos versos, não há como ignorar o fato de que Janky Star utiliza de uma abordagem excessivamente simplista na maior das composições. São camadas ocasionais de guitarras, sintetizadores e batidas sempre econômicas, como uma interpretação totalmente esquelética do repertório entregue no disco anterior. Instantes em que Ives se distancia de possíveis excessos de forma quase exagerada, direcionamento que pouco convence musicalmente, porém, tende a valorizar cada mínimo fragmento poético que serve de sustento ao álbum.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.