O Hinds como conhecíamos já não existe mais. Depois de uma década como grupo, Ade Martín e Amber Grimbergen decidiram se desligar da banda, deixando apenas Carlotta Cosials e Ana García Perrote como membros oficiais. Entretanto, a mudança de direção em nada parece ter prejudicado o projeto madrilenho que retorna ainda mais inspirado e enérgico com a chegada do álbum Viva Hinds (2024, Lucky Number).

Primeiro disco de inéditas da banda em quatro anos, o sucessor de The Prettiest Curse (2020) traz de volta a crueza do introdutório Leave Me Alone (2016), porém, partindo de um novo enquadramento. Por conta do agora reduzido número de integrantes, Viva Hinds se sustenta quase que inteiramente no uso das guitarras barulhentas e vozes da dupla, além de uma bateria complementar que cresce até a derradeira Bon Voyage.

O resultado desse processo está na entrega de uma obra que se distancia de possíveis excessos, vai sempre direto ao ponto e ainda aproxima o Hinds da própria cultura. Exemplo disso fica mais do que evidente com a chegada de En Forma. Com versos cantados em espanhol, a música que trata sobre a libertação após um término mostra Cosials por completo, ressaltando o que talvez se perdesse em uma tradução para o inglês.

É como se a banda, pela primeira vez em mais de uma década de carreira, se revelasse por completo para o ouvinte. Mesmo quando retorna aos versos em inglês, como em The Bed, The Room, The Rain And You, a intensa sensação de vulnerabilidade se faz evidente durante toda a execução do material. “A luz é você / Os oceanos também / Eu canto para você … Me diga onde eu posso te encontrar”, cresce a letra da canção.

Embora parta de uma abordagem profundamente confessional, conceito reforçado em composições como Superstar, interessante perceber em Viva Hinds o trabalho em que a dupla espanhola mais se aproxima de diferentes parceiros criativos. É o caso de Beck, com quem as duas artistas divide a divertida Boom Boom Back. Quem também dá as caras, é o músico Grian Chatten, vocalista do Fontaines D.C.,na soturna Stranger.

Claro que toda essa combinação de elementos nunca foge ao controle da dupla madrilenha e do produtor Pete Robertson, baterista do The Vaccines, que trabalhou com a banda em cada uma das dez músicas que integram o disco. São canções que ainda orbitam um universo próprio do Hinds, confessando referências e elementos há tempos testados pelo grupo em estúdio, porém, perfumadas com um doce aroma de frescor.

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