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Crítica

Hudson Mohawke

: "Cry Sugar"

Ano: 2022

Selo: Warp

Gênero: Eletrônica, Future Bass

Para quem gosta de: TNGHT e SOPHIE

Ouça: Bicstan e Intentions

7.7
7.7

Hudson Mohawke: “Cry Sugar”

Ano: 2022

Selo: Warp

Gênero: Eletrônica, Future Bass

Para quem gosta de: TNGHT e SOPHIE

Ouça: Bicstan e Intentions

/ Por: Cleber Facchi 22/08/2022

Mesmo partindo de uma abordagem completamente fragmentada, torta, é sempre satisfatório perceber a forma como Hudson Mohawke consegue amarrar suas criações dentro de cada novo trabalho de estúdio. Mais recente lançamento do produtor escocês, Cry Sugar (2022, Warp) é um bom exemplo disso. Do momento em que tem início, em Ingle Nook, com suas vozes cristalinas e temas orquestrais, passando pelo completo experimentalismo de Stump ao direcionamento dançante que embala a já conhecida Bicstan, perceba como o artista vai de um canto a outro sem necessariamente perder o controle da própria obra.

São fragmentos de vozes, incontáveis camadas de sintetizadores e efeitos que apontam para diferentes direções criativas, porém, sustentam na potência das batidas um precioso componente de aproximação entre as faixas. A diferença em relação a outros trabalhos de Mohawke, como o antecessor Lantern (2015), está na forma como o artista escocês amplia ainda mais o próprio campo de atuação. E não poderia ser diferente. Mesmo que tenha se aventurado paralelamente com o parceiro Lunice, no TNGHT, e Danny L Harle, em Harlecore (2021), lá se vão sete anos desde o último álbum do produtor em carreira solo.

Nesse sentido, Cry Sugar nasce como uma colorida combinação de ideias, ritmos e canções que vem sendo gestadas pelo artista desde a entrega de Lantern. É como uma coletânea não intencional, o que justifica o número excessivo de faixas e permanente busca de Mohawke por novas possibilidades. O próprio direcionamento adotado pelo produtor dentro de cada música, com suas diferentes estruturas rítmicas e quebras conceituais parece reforçar esse resultado. Pouco mais de 60 minutos de duração em que somos transportados para diferentes territórios criativos de forma deliciosamente imprevisível e provocativa.

Exemplo disso fica bastante evidente na sequência composta por Is It Supposed, Lonely Days e Redeem. São pouco menos de 14 minutos em que Mohawke parte de uma abordagem acessível, detalhando o uso dos sintetizadores e batidas dançantes, para mergulhar em um ambiente consumido pela melancolia dos arranjos e, por fim, fragmentar todo e qualquer elemento em uma abordagem que faz lembrar de nomes como SOPHIE. De fato, a relação do artista com a produção britânica parece bastante destacada durante toda a execução do material, porém, de forma essencialmente retalhada, marca das criações do produtor.

Embora utilize de diferentes propostas criativas, Cry Sugar preserva uma série de elementos bastante característicos da obra de Mohawke. Perfeita representação desse resultado acontece em Rain Shadow, música que destaca a força das batidas e aponta para as criações do artista no início da década passada. A própria Dance Forever, revelada há poucas semanas, é outra que utiliza de uma abordagem bastante similar, porém, valorizando o uso das vozes, componente sempre posicionado em segundo plano nas criações do produtor. Um delirante atravessamento de informações que tende aos excessos, vide o exagerado número de canções, mas que invariavelmente convence e acaba atraindo a atenção do ouvinte.

Verdadeira vitrine para a obra de Mohawke, Cry Sugar concentra o que há de melhor no som produzido pelo artista que já colaborou com nomes importantes como ANOHNI e Kanye West. São canções que preservam a identidade criativa e potência do som que há mais de uma década vem sendo desenvolvido pelo escocês, porém, livres de qualquer traço de conforto. Da valorização das vozes à construção das batidas e uso dos sintetizadores, tudo soa como novidade em um território que há muito vem sendo explorado não apenas pelo produtor, como outros nomes dotados de uma sonoridade bastante similar.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.