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Crítica

Ibibio Sound Machine

: "Electricity"

Ano: 2022

Selo: Merge

Gênero: Afro-Funk, Eletrônica

Para quem gosta de: Santigold e Janelle Monáe

Ouça: Protection From Evil e All That You Want

8.0
8.0

Ibibio Sound Machine: “Electricity”

Ano: 2022

Selo: Merge

Gênero: Afro-Funk, Eletrônica

Para quem gosta de: Santigold e Janelle Monáe

Ouça: Protection From Evil e All That You Want

/ Por: Cleber Facchi 01/04/2022

Perto de completar uma década de carreira, Eno Williams e seus parceiros de banda no Ibibio Sound Machine estão longe de parecer iniciantes, porém, tudo aquilo que o grupo apresenta em Electricity (2022), quarto e mais recente trabalho de estúdio, chega ao público como novidade. Sequência ao material entregue em Doko Mien (2019), obra que evidencia a busca por uma sonoridade cada vez mais acessível, o registro marcado pela urgência dos elementos e criativo cruzamento de ritmos encanta pelo permanente diálogo com a cultura africana, mas acaba chamando a atenção pela abordagem totalmente dançante.

Com os dois pés nas pistas, Electricity captura a atenção do ouvinte logo nos minutos iniciais, na intensa Protection From Evil. São pouco mais de quatro minutos em que incontáveis camadas de sintetizadores se entrelaçam em meio a batidas rápidas, estrutura que se completa pela linha de baixo destacada e guitarras que parecem dançar a cada novo movimento. Parte dessa mudança de sonoridade vem da interferência direta de membros do Hot Chip durante a produção do trabalho. Do uso das vozes ao tratamento dado aos arranjos, tudo parece pensado de forma colaborativa para potencializar e ampliar os limites da obra.

Exemplo disso fica bastante evidente em All That You Want. Típica criação do Ibibio Sound Machine, a faixa que parece saída de Doko Mien preserva parte da identidade criativa grupo, vide o uso dos metais e ritmo quente, porém, ganha novas tonalidades na base sintética que parece própria das canções de Joe Goddard e Alexis Taylor. A própria Wanna See Your Face Again, minutos à frente, potencializa ainda mais esse resultado, com Williams reaparecendo em meio a batidas nostálgicas que fazem lembrar de CeCe Peniston, Crystal Waters e outros nomes importantes da cena eletrônica que foram apresentados na década de 1990.

São justamente esses pequenos cruzamentos de informações e referências que apontam para os mais variados campos da música que tornam a experiência de ouvir o trabalho tão interessante. É como um campo aberto às possibilidades. Instantes em que o coletivo britânico vai de um canto a outro de forma sempre curiosa e diversa, fazendo das batidas e elementos percussivos um importante componente de amarra. O resultado desse processo está na entrega de faixas como 17 18 19, composição que viaja até os anos 1980, dialoga com a obra do Talking Heads, porém, preservando a identidade do grupo inglês.

Embora marcado pelo cruzamento de informações e diferentes propostas que ampliam os horizontes da obra, Electricity em nenhum momento se distancia do uso de temas jazzísticos e bases ritualísticas que parecem típicas do Ibibio Sound Machine. Exemplo disso acontece em Truth No Lie, Oyoyo e demais faixas em que Williams alterna entre versos cantados em inglês e na língua ibibio, da região Sudeste da Nigéria. Essa relação fica ainda mais evidente nos momentos de maior calmaria da obra, como em Afo Ken Doko Mien, música que soa como uma interpretação etérea das criações transcendentais propostas por Fela Kuti.

Passagem para uma nova fase na carreira da banda, Electricity não apenas funciona como um exercício de reapresentação para o Ibibio Sound Machine, como deixa o caminho aberto para os futuros trabalhos do grupo. Tão logo tem início, em Protection From Evil, cada nova composição parece transportar o ouvinte para um território diferente. São décadas de referências, costuras e sobreposições estéticas que seguem de onde a banda parou em Doko Mien, porém, de forma transformada, estrutura que se reflete em cada mínimo fragmento de voz e uso calculado das batidas que rapidamente convidam o ouvinte a dançar.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.