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Crítica

Ichiko Aoba

: "Luminescent Creatures"

Ano: 2025

Selo: Hermine / Psychic Hotline

Gênero: Folk, Art Pop

Para quem gosta de: Adrianne Lenker e Laura Marling

Ouça: Lucifèrine, Mazamun e Coloratura

8.3
8.3

Ichiko Aoba: “Luminescent Creatures”

Ano: 2025

Selo: Hermine / Psychic Hotline

Gênero: Folk, Art Pop

Para quem gosta de: Adrianne Lenker e Laura Marling

Ouça: Lucifèrine, Mazamun e Coloratura

/ Por: Cleber Facchi 12/03/2025

O mergulho dado por Ichiko Aoba em Windswept Adan (2020) continua a orientar o trabalho da musicista japonesa em Luminescent Creatures (2025, Hermine / Psychic Hotline). Inaugurado pelas orquestrações de Taro Umebayashi, com quem divide a produção do disco, Aoba faz da introdutória Coloratura a passagem para o ambiente de emanações litorâneas que conduz criativamente cada uma das onze faixas do registro.

Não por acaso, ao mergulhar na composição seguinte, 24° 3′ 27.0″ N, 123° 47′ 7.5″ E, Aoba resgata os versos de uma música tradicional da ilha de Hateruma, reforçando ainda mais a temática do registro. São canções que partem da relação com o mar e as criaturas que habitam o fundo dos oceanos para se relacionar com os sentimentos mais profundos da musicista japonesa, como a solidão detalhada nos versos de Mazamun.

Em geral, são composições que antecedem o fim e buscam se apegar aos sentimentos e relações que ainda restam, como em Tower. “Se esta noite for a última / Dance mais uma vez”, canta. Mesmo quando se afasta dos temas marítimos, Aoba mantém firme o forte aspecto emocional da obra. Exemplo disso fica bastante evidente em Aurora, canção em que ainda dá destaque ao violão, seu principal instrumento de trabalho.

Esse reducionismo acústico ganha ainda mais destaque em Flag, composição em que tende à bossa nova, porém, preservando a própria identidade criativa. Nada que Lucifèrine não dê conta de ampliar. Precedida pelo interlúdio de Cochlea, a faixa mais uma vez destaca a complexidade dos arranjos, o uso de elementos orquestrais e vozes sempre adocicadas que parecem apontar para a obra de Joanna Newsom e Kate Bush.

Claro que esses instantes de evidente grandeza em nenhum momento rompem com o que parece ser um limite auto-imposto por Aoba. Até quando tende ao experimentalismo, como em Pirsomnia, a compositora mantém firme o reducionismo do trabalho. Se por um lado esse direcionamento garante ao público uma obra equilibrada, por outro, acaba reduzindo a potência de composições que poderiam ser ainda maiores.

É o caso de Sonar, faixa que parece incapaz de causar a mesma sensação de impacto sentida em músicas como Coloratura e Lucifèrine. Ainda assim, tudo é tratado com tamanho comprometimento por parte de Aoba que é difícil não ceder aos encantos da musicista. A própria canção de encerramento, Wakusei no Namida, com suas captações de campo e violão em destaque, funciona como uma boa representação do refinamento estético e execução atenta proposta pela artista do primeiro ao último instante do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.