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Crítica

Illuminati Hotties

: "Let Me Do One More"

Ano: 2021

Selo: Hopeless / Snack Shack Tracks

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Charly Bliss e Snail Mail

Ouça: Mmmoooaaaaayaya e Knead

8.0
8.0

Illuminati Hotties: “Let Me Do One More”

Ano: 2021

Selo: Hopeless / Snack Shack Tracks

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Charly Bliss e Snail Mail

Ouça: Mmmoooaaaaayaya e Knead

/ Por: Cleber Facchi 14/10/2021

Slowdive, Porches, Weyes Blood, Tim Heidecker e Pom Pom Squad, esses foram alguns dos artistas com quem Sarah Tudzin colaborou em estúdio nos últimos. Cantora, compositora, engenheira de som e produtora, a multi-instrumentista de Los Angeles se transformou em um dos nomes mais requisitados da cena californiana. E não poderia ser diferente. Capaz de transitar por entre estilos de forma essencialmente versátil, a musicista estadunidense costuma fazer de cada novo registro um precioso exercício imaginativo, proposta que fica ainda mais evidente nas composições apresentadas sob o título de Illuminati Hotties.

Principal identidade criativa de Tudzin, o projeto fundado há quatro anos alcança sua melhor forma nas canções de Let Me Do One More (2021, Hopeless / Snack Shack Tracks). Mais recente criação da artista californiana, o registro que sucede o elogiado Kiss Yr Frenemies (2018), de onde vieram músicas como (You’re Better) Than Ever e Pressed 2 Death, nasce como uma soma natural de tudo aquilo que a cantora tem produzido ao longo da carreira. Composições regidas em essência pela urgência das guitarras, batidas e vozes, porém, completas pelo lirismo bem-humorado que orienta com frescor a formação do trabalho.

São canções que discutem relacionamentos fracassados, o estilo de vida norte-americano, experiências lisérgicas e capitalismo, porém, de forma sempre marcada pela leveza dos elementos, estrutura que faz lembrar do material produzido por Courtney Barnett no introdutório Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit (2015). “A loja da esquina tem comprimidos de açúcar / Para resolver nossa culpa de consumidor / Assim que você for fisgado, eles farão um acordo“, canta em Threatening Each Other re: Capitalism, música que sintetiza parte das experiências e temas abordados pela cantora ao longo da obra.

É como se Tudzin, sempre consciente do cenário em que habita, fizesse de cada composição um precioso objeto de estudo. Canções que funcionam como crônicas musicadas, sempre descritivas, direcionamento que tem sido incorporado pela artista desde o álbum anterior, ampliado durante o lançamento da mixtape FREE I​.​H: This Is Not The One You’ve Been Waiting For (2020), revelada há poucos meses, e enquadrado de forma ainda mais acessível com o presente disco. Um precioso cruzamento de informações que vai da construção dos versos à criativa formação dos arranjos, sempre detalhistas, ainda que urgentes.

Dos poucos momentos em que rompe com essa estrutura, Tudzin revela ao público algumas das canções mais sensíveis do registro. É o caso de u v v p, música que vai de encontro ao pop dos anos 1960, estreita a relação com Buck Meek, do Big Thief, e carrega na vulnerabilidade explícita nos versos um componente de imediato diálogo com o ouvinte. “Toda vez que ouço uma musica / Eu penso em você dançando“, confessa. Essa mesma relação acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, como em Protector e The Sway, músicas em que se distanciam por completo do lirismo ácido do restante do trabalho.

Vem justamente dessa capacidade de Tudzin em transitar por entre estilos, poéticos e instrumentais, a real beleza de Let Me Do One More. Pouco mais de 40 minutos em que a artista californiana vai do rock dos anos 1990, em uma abordagem bastante similar aos trabalhos de Liz Phair e The Breeders, ao indie pop produzido por grupos como Los Campesinos. Como indicado logo na sequência de abertura, no turbilhão formado pelas pegajosas Pool Hopping e Mmmoooaaaaayaya, é difícil saber qual será o próximo passo dado pela cantora, o que torna a experiência de ouvir o registro sempre imprevisível e satisfatória.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.