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Crítica

Jadsa

: "Big Buraco"

Ano: 2025

Selo: Risco

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Josyara e Tulipa Ruiz

Ouça: 1000 Sensations e Sol na Pele

8.8
8.8

Jadsa: “Big Buraco”

Ano: 2025

Selo: Risco

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Josyara e Tulipa Ruiz

Ouça: 1000 Sensations e Sol na Pele

/ Por: Cleber Facchi 11/06/2025

A sonora escolha de palavras como “manguaça”, “antioxidante” e “beiço”, o ruído pontual dos scratches e a completa flexibilidade das vozes tornam o óbvio ainda mais explícito: Big Buraco (2025, Risco) é uma obra que transborda musicalidade. Segundo álbum Jadsa em carreira solo, o sucessor de Olho de Vidro (2021) é tanto uma continuação dos registros que o antecedem, quanto a passagem para um novo território criativo.

Ainda que muitas das canções que integram o disco tenham saído diretamente do colaborativo Vera Cruz Island (2024), trabalho assinado em parceria com João Miliet Meireles no paralelo Taxidermia, o produto final é completamente outro. Agora acompanhada pela produção caprichosa de Antônio Neves, a cantora baiana não apenas conclui o que iniciou há poucos meses, como transcende os limites da própria criação.

Os habituais jogos de palavras, tão característicos da obra de Jadsa, ainda estão presentes durante toda a execução do trabalho. A diferença está na forma como eles se conectam diretamente aos instrumentos e bases rítmicas que transbordam a essência da artista. São expressões vulgarmente desgastadas, como “no pain, no gain”, mas que ganham novo significado ao serem remixadas na voz e nas intenções da cantora.

O simples ato de detalhar frutas a partir de uma perspectiva quase erótica, como na música Tremedêra, se transforma em uma experiência sensorial. Eu passaria horas ouvindo Jadsa cantar sobre a “penugem de umbu” ou “perfume de goiaba”. Claro que nem tudo fica no campo da subjetividade. Há muita canção em Big Buraco, algumas bastante diretas, populares, revelando o esforço da artista em abraçar novos públicos.

Na já conhecida 1000 Sensations, por exemplo, Jadsa tenta se desvencilhar de um relacionamento aceso na imprudência. Já em Sol na Pele, com seus versos descritivos, musicalidade baiana e acenos para Olodum e Caetano Veloso, a artista se entrega ao amor. A própria faixa de abertura, Big Bang, com seus desejos mais honestos (“Viver bem / Comer bem / Dormir bem”) escancara esse aspecto descomplicado de Big Buraco.

Mesmo quando começa a perder fôlego e repetir ideias, após flertar com o dub em Your Sunshine, a artista tem sempre um componente em mãos para alavancar composições menores como Um Choro e Samba Pra Juçara. São fragmentos líricos, sonoros e rítmicos que continuam a reverberar na cabeça do ouvinte após a execução do disco. É como se, mesmo com o silêncio instaurado, a musicalidade de Jadsa permanecesse.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.