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Crítica

Jamila Woods

: "Water Made Us"

Ano: 2023

Selo: Jagjaguwar

Gênero: R&B, Neo-Soul

Para quem gosta de: Solange e Amber Mark

Ouça: Tiny Garden, Practice e Send a Dove

8.2
8.2

Jamila Woods: “Water Made Us”

Ano: 2023

Selo: Jagjaguwar

Gênero: R&B, Neo-Soul

Para quem gosta de: Solange e Amber Mark

Ouça: Tiny Garden, Practice e Send a Dove

/ Por: Cleber Facchi 20/10/2023

A imagem de Jamila Woods encontrando a si mesma embaixo d’água funciona como boa representação de tudo aquilo que a cantora e compositora norte-americana busca desenvolver no fino repertório de Water Made Us (2023, Jagjaguwar). Terceiro e mais recente trabalho de estúdio da artista, o registro produzido em parceria com Chris McClenney deixa de lado o universo referencial explorado no antecessor Legacy! Legacy! (2019) para se aprofundar na alma e nas experiências pessoais da musicista. É como um delicado exercício de exposição sentimental que faz de Woods o principal componente criativo da própria obra.

Entretanto, para além de uma abordagem egoica, Water Made Us se revela ao público como o produto final de um longo processo de autorreflexão vivido pela artista. Trancada dentro de casa durante a pandemia de Covid-19, Woods decidiu resgatar antigas memórias, tormentos e recordações empoeiradas de forma a ressignificar velhas percepções. O resultado desse processo está entrega do que a própria cantora define como sua “obra de arte mais pessoal e vulnerável“. São canções que começam pequenas, ganham forma aos poucos e crescem em uma medida própria de tempo, destacando a sensibilidade explícita nos versos.

Entre, a água está quente, não vou te machucar / Sei que meu coração está lento / Mas não vou te deixar“, canta em Headfirst, música em que dialoga com sigo mesma, criando um espaço de acolhimento pessoal, mas que em nenhum momento deixa de comunicar com o ouvinte. Mesmo quando busca estreitar laços com outros artistas, como a cantora Duendita, em Tiny Garden, tudo gira em torno de um universo criativo bastante característico. Frações poéticas que parecem dançar pelo tempo, combinando passado e presente em meio a paisagens descritivas, diferentes cenas e acontecimentos de forma sempre intimista e tocante.

Embora marcado pelo forte aspecto contemplativo, Water Made Us está longe de parecer uma obra contida. Exemplo disso fica bastante evidente em Practice. Concebida em parceria com o conterrâneo Saba, com quem a cantora já havia colaborado anteriormente, a faixa que trata sobre o amadurecimento de um casal chama a atenção pela riqueza dos arranjos, uso sempre destacado das vozes e batidas que orientam com naturalidade a experiência do ouvinte. É como um preparativo para o que se apresenta de forma ainda mais interessante e musicalmente grandiosa em Send A Dove, um dos momentos de maior beleza do disco.

Claro que essa riqueza de detalhes em nada diminui o impacto de canções marcadas pelo reducionismo dos elementos. E isso fica bem representado em I Miss All My Exes. Completo pela participação da cantora Gia Margaret, o poema declamado em conjunto pelas duas artistas se apoia no olhar para o passado e no resgate de antigos relacionamentos, porém, sustenta no caráter reflexivo de Water Made Us uma completa inversão do que estamos habitados em outras criações do gênero. São versos consumidos pela saudade e a necessidade de seguir em frente, estrutura que ainda se completa pelo trompete econômico de Nico Segal.

Dividido entre momentos de calmaria e sutil excitação, diferentes temáticas e canções que apontam para os mais variados campos da música, vide a pluralidade explícita em Boomerang e Good News, Water Made Us acaba se revelando como o trabalho mais diverso já produzido pela artista. Mesmo que isso contribua para o surgimento de pequenos excessos e composições que estendem a duração do registro para além do necessário, tudo se projeta de maneira tão sensível e intimamente conectada aos sentimentos da própria cantora que é simplesmente impossível não se deixar conduzir pelo repertório apresentado por Woods.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.