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Crítica

Janvi

: "VemSer"

Ano: 2025

Selo: Central Records

Gênero: Rap, Neo-Soul, R&B

Para quem gosta de: Nabru e Xênia França

Ouça: Tudo Cria Tempo, Amanheceu e Conselho

8.2
8.2

Janvi: “VemSer”

Ano: 2025

Selo: Central Records

Gênero: Rap, Neo-Soul, R&B

Para quem gosta de: Nabru e Xênia França

Ouça: Tudo Cria Tempo, Amanheceu e Conselho

/ Por: Cleber Facchi 06/08/2025

Tudo cria tempo pra colher, plantar e ver crescer”, rima Janvi logo nos minutos iniciais de VemSer (2025, Central Records). Estreia da rapper paranaense de ascendência indiana, o registro de nove faixas avança aos poucos, sem pressa, detalhando o misto de canto e rima que parte do conceito hindu de Maya — a ilusão que nos faz acreditar que somos o que vemos —, para mergulhar nos sentimentos mais profundos da artista.

Passado esse momento de doce ambientação ao trabalho, Janvi, sempre acompanhada pelo produtor Safê, segue com a faixa-título do disco. Enquanto a base da composição dialoga com o neo-soul de Erykah Badu e outros nomes do gênero, versos marcados por conquistas pessoais surgem como um chamado. É como um preparativo para o que se reflete de forma ainda mais impactante em Amanheceu, junto de Alra Alves.

São versos cuidadosamente encaixados, sempre sensíveis, como um diálogo direto de Janvi com o próprio ouvinte. Nada que prejudique a entrega de faixas puramente pessoais, como Ele Jura, encontro com Muse Maya em que reflete sobre os impactos do machismo e da masculinidade tóxica. Essa mesma abordagem contestadora volta a se repetir em Palpitação, canção que pouco avança musicalmente quando próxima de outras composições reveladas ao longo do trabalho, mas que convence pela incontestável força das rimas.

Nada que prepare o ouvinte para o que se revela em Conselho. De acabamento minimalista, a faixa encanta pela capacidade de Janvi em transitar por entre questões raciais, políticas e sentimentais de forma bastante sensível, preservando o acabamento melódico da canção. “Quem não quer sou eu”, dispara a artista em um exercício anti-opressivo, estrutura que se completa pelos pianos cristalinos e produção caprichada de Safê.

Tão impactante quanto a faixa que a antecede, é Quente Viu, vinda logo em sequência. Canção que mais se distancia do restante da obra, a música deixa de lado a ambientação sutil apontada em Tudo Cria Tempo, nos minutos iniciais, para destacar a urgência das batidas e potência dos versos. Instantes em que Janvi deixa de lado o misto de neo-soul e R&B para mergulhar no drum and bass de veteranos como DJ Patife.

Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo na canção seguinte, $ugar Mami. Ainda que liricamente acomodada em questões sentimentais, rompendo com o caráter político presente no restante do álbum, a faixa chama a atenção pela fluidez das rimas e capacidade de Janvi em transitar por diferentes estilos com naturalidade. Um precioso ato de encerramento, mas que deixa o caminho aberto para o que está por vir.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.