Como se não bastasse o número regular de obras lançadas pelo Wilco, de tempos em tempos, Jeff Tweddy costuma surpreender o público com um projeto paralelo ou um trabalho em carreira solo. Alguns chegam em sequência, como Warm (2018), Warmer (2019) e Love Is the King (2020), já outros, como o volumoso Twilight Override (2025, dBpm), nascem do acúmulo natural de anos de composições do norte-americano.

Propositadamente extenso, o álbum de trinta faixas e mais de duas horas de duração funciona como uma síntese do que há de mais característico na obra do artista. São canções que oscilam entre o cancioneiro norte-americano, momentos de maior experimentação e músicas grandiosas que não apenas destacam o domínio criativo de Tweedy, como a capacidade do cantor em transitar por diferentes estilos em estúdio.

Longe de uma estrutura organizacional, cada um dos três discos que dividem o trabalho apontam para as mais variadas direções. Dessa forma, é possível encontrar de tudo em qualquer álbum. Dos improvisos com a guitarra, em This Is How It Ends, passando pelo lirismo melancólico que invade Out In The Dark, sobram momentos em que o músico joga com as possibilidades em estúdio e amplia o próprio campo de atuação.

Naturalmente, algumas canções acabam se destacando mais do que as outras. É o caso de Lou Reed Was My Babysitter, faixa que não apenas escancara o bom humor de Tweedy, como transporta para dentro de estúdio a mesma energia das apresentações ao vivo do Wilco. A própria One Tiny Flower, logo na abertura do trabalho, evidencia parte da potência criativa que se repete em doses no deorrer de Twilight Override.

Dessa forma, mesmo excessivamente longo e pontuado por faixas menos expressivas, como Blank Baby e Wedding Cake, Tweedy mantém a atenção do ouvinte em alta durante toda a execução do trabalho. Feito para ser revisitado e apreciado sem uma ordem exata, Twilight Override espalha preciosidades como Stray Cats in Spain e New Orleans que escancaram a entrega e grandeza do artista mesmo após anos de atuação.

Um exagero consciente que se espalha entre crônicas, momentos de maior vulnerabilidade emocional ou mesmo acenos para algumas das principais influências do artista, como Bob Dylan e The Beatles. A própria escolha em encerrar o disco com Enough funciona como uma representação do domínio de Tweedy sobre o repertório de Twilight Override, como se o músico fizesse desse amontoado poético sua maior virtude.

Ouça também: