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Crítica

Jefre Cantu-Ledesma

: "Gift Songs"

Ano: 2025

Selo: Mexican Summer

Gênero: Experimental, Música Ambiente

Para quem gosta de: Tim Hecker e Fennesz

Ouça: The Milky Sea e River That Flows Two Ways

8.0
8.0

Jefre Cantu-Ledesma: “Gift Songs”

Ano: 2025

Selo: Mexican Summer

Gênero: Experimental, Música Ambiente

Para quem gosta de: Tim Hecker e Fennesz

Ouça: The Milky Sea e River That Flows Two Ways

/ Por: Cleber Facchi 29/04/2025

Mesmo dono de um extenso repertório concebido de maneira solitária, a partir de experimentos caseiros com sintetizadores e fitas magnéticas, sobrevive nos registros colaborativos a passagem para algumas das principais obras de Jefre Cantu-Ledesma. E isso fica mais do que evidente em cada uma das cinco faixas que integram o mais recente trabalho de estúdio do norte-americano, Gift Songs (2025, Mexican Summer).

Inaugurado pela extensa The Milky Sea, com mais de 20 minutos de duração, o trabalho apresenta parte dos conceitos que serão explorados ao longo do álbum logo em seus momentos iniciais. Enquanto Cantu-Ledesma se concentra na articulação das bases e texturas ruidosas, pianos de Omer Shemesh e a sempre meticulosa percussão de Booker Stardrum concedem ao disco uma fluidez poucas vezes antes percebida nas criações do instrumentista nova-iorquino. É como um lento, porém, delicado exercício de composição.

Não por acaso, passado esse poderoso ato de abertura, Gift Song I, vinda logo em sequência, custa a atrair o ouvinte. É como se Cantu-Ledesma recomeçasse do zero. São pianos minimalistas que buscam respirar em uma base drone. Instantes em que o compositor confessa algumas das principais referências criativas, como Brian Eno e William Basinski, porém, preservando a ambientação suja que envolve seus trabalhos.

Passado esse momento maior instabilidade, Gift Song II não somente traz o disco de volta aos eixos, como destaca o esmero de Cantu-Ledesma na elaboração do material. Partindo de uma combinação entre órgão e piano, o músico deixa de lado o uso de ambientações sintéticas tão presentes em registros como On The Echoing Green (2017) e Tracing Back The Radiance (2019), para destacar o acabamento acústico do disco.

Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo na composição seguinte, Gift Song III. Enquanto a base da canção ganha forma em uma medida própria de tempo, destacando o som das teclas e ruídos ocasionais, pianos em primeiro plano levam o trabalho para outras direções. Pinceladas instrumentais que apontam para a obra de músicos como Philip Glass sem necessariamente ocultar a identidade de Cantu-Ledesma.

Escolhida para o encerramento do álbum, River That Flows Two Ways é tanto uma extensão das músicas que a antecedem, como uma manifestação do experimentalismo que move o trabalho de Cantu-Ledesma. São movimentações microscópicas que auxiliam o instrumentista a causar no ouvinte um estado de transe. Uma conclusão hipnótica para um disco que se revela nos detalhes, muitos deles quase imperceptíveis.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.