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Ano: 2025

Selo: AD 93

Gênero: Indie, Folk

Para quem gosta de: Grouper e Cat Power

Ouça: Always Were, Exit Vendor e Gown

8.2
8.2

Joanne Robertson: “Blurrr”

Ano: 2025

Selo: AD 93

Gênero: Indie, Folk

Para quem gosta de: Grouper e Cat Power

Ouça: Always Were, Exit Vendor e Gown

/ Por: Cleber Facchi 01/10/2025

A voz ecoada, a guitarra parcialmente submersa e as orquestrações ocasionais delicadamente compõem o estranho e fascinante universo proposto por Joanne Robertson em Blurrr (2025, AD 93). Gravado em meio a sessões de pintura e enquanto lidava com a criação do primeiro filho, o registro de nove canções é uma obra que avança em uma medida própria de tempo, mas que arrebata o ouvinte sem grandes dificuldades.

Parte desse resultado vem da atmosfera proposta por Robertson. Enquanto os versos de cada composição, sempre borrados e imprecisos, funcionam como conversas particulares, revelando a consciência em fluxo, instabilidade e intimidade da artista inglesa, ambientações enevoadas resultam em um cenário tão familiar quanto desconfortável, reforçando a sensação de solidão que, mesmo discreta, parece consumir o material.

É como se Robertson, conhecida pelas experimentações em colaboração com Dean Blunt e outros nomes da cena inglesa, se despisse do acabamento complexo dos registros acumulados na última década para se revelar por completo. Não é difícil visualizar a compositora em um palco escuro, confessando sentimentos enquanto manipula guitarras que se revelam em ondas, reforçando a intensa carga emocional de Blurrr.

Não se trata de algo exatamente novo, afinal, é possível perceber ecos de Grouper e de Jessica Pratt tanto na formatação dos arranjos e vozes como no lirismo confessional. A própria sobreposição das guitarras e dramaticidade explícita em Exit Vendor traz de volta a mesma entrega explícita na obra de Cat Power entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000. Ainda assim, é difícil não ceder aos encantos de cantora.

E isso fica ainda mais evidente nos momentos em que a compositora rompe com o próprio isolamento para estreitar laços com o violoncelista Oliver Coates. Parceiro de longa data da cantora, o músico britânico usa do lento avanço das cordas para expandir os temas emocionais detalhados por Robertson. São faixas como Always were e Gown, que, mesmo grandiosas, em nenhum momento rompem com o reducionismo da obra.

Partindo dessa abordagem, Blurrr se revela menos como um ponto de ruptura e mais como um exercício de depuração estética e emocional. Robertson não propõe grandes transformações formais, mas encontra força justamente na contenção, no gesto mínimo capaz de condensar afetos duradouros. É nesse equilíbrio sutil entre o silêncio e a densidade emocional de cada acorde, que o registro sustenta sua relevância, não pelo ineditismo, mas pela clareza com que traduz a solidão e outras angústias em matéria sonora palpável.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.