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Crítica

José González

: "Local Valley"

Ano: 2021

Selo: Mute

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Devendra Banhart e Iron & Wine

Ouça: Visions e Head On

7.3
7.3

José González: “Local Valley”

Ano: 2021

Selo: Mute

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Devendra Banhart e Iron & Wine

Ouça: Visions e Head On

/ Por: Cleber Facchi 01/10/2021

É impressionante a capacidade que José González tem de transportar a mente do ouvinte para território particular. E isso fica ainda mais evidente nas canções de Local Valley (2021, Mute). Partindo de uma abordagem totalmente reducionista, sempre centrada no uso de voz e violão, o cantor e compositor sueco se concentra na produção de um repertório marcado pelo uso de temas introspectivos, confissões românticas e momentos de doce melancolia. São canções que partem de inquietações e experiências vividas pelo próprio artista, porém, intimamente conectadas ao ouvinte, atraído para dentro da obra.

A diferença em relação aos antigos trabalhos do músico, principalmente os introdutórios Veneer (2003) e In Our Nature (2007), está no maior destaque às composições cantadas em espanhol. Filho de pais argentinos que deixaram o país durante o período da ditadura militar, González, que cresceu no subúrbio de Gotemburgo, na Suécia, estabelece no distanciamento da língua inglesa um importante componente de transformação. É como se o músico, pela primeira vez livre de possíveis amarras, estreitasse ainda mais a relação com o ouvinte, efeito direto do lirismo confessional que serve de sustento ao delicado registro.

Diga-me, por que será? / Diga-me, aonde você está indo? / Diga-me, de onde nós somos? Diga-me, diga-me“, questiona na introdutória El Invento, composição que sintetiza parte das inquietações e experiências propostas pelo músico ao longo da obra. Instantes em que González preserva a poesia existencialista que marca o disco anterior, Vestiges & Claws (2015), porém, de forma delicadamente transformada. São fragmentos de vozes que se espalham em meio a arranjos econômicos e cantos de pássaros, como um reforço a esse ambiente intimista e fantástico que o artista evidencia logo no título e imagem de capa.

Esse mesmo direcionamento atmosférico acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra. São canções como a já conhecida Visions, com suas vozes sobrepostas e melodias acústicas que parecem saídas de algum disco de Cat Stevens, e a meditativa Horizons, faixa que resgata a essência dos primeiros registros de González, porém, reforçando na essência latina que embala o restante da obra. Composições que se revelam ao público em pequenas doses, direcionamento que embala as criações do músico sueco desde os primeiros registros autorais, porém, de forma ainda convincente e mágica.

Interessante notar que mesmo guiado pela leveza dos elementos, marca das criações de González, Local Valley talvez seja o trabalho em que o músico sueco melhor desenvolve o uso da percussão. Exemplo disso acontece em Head On, composição que utiliza do próprio atrito com o violão como um estímulo para direcionamento rítmico da faixa. Nada que se compare ao material entregue em Swing. Declaradamente inspirada pelos ritmos afro-caribenhos, a canção de essência ensolarada ganha forma aos poucos, sem pressa, como a passagem para um território à beira-mar, quente e totalmente aconchegante.

Tamanho esmero e pluralidade de ideias no processo de construção do álbum faz de Local Valley o trabalho mais acessível e naturalmente convidativo para o ouvinte não iniciado na obra de González. Mesmo quem há tempos acompanha as criações do músico sueco dificilmente deve escapar da doce combinação de elementos que vai do uso sereno das vozes à fina tapeçaria instrumental que cobre toda a superfície do disco. São canções que apontam de forma explícita para os primeiros registros do cantor, porém, sempre pontuadas por momentos de maior transformação, diferentes andamentos rítmicos e temáticas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.