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Crítica

Julia Branco

: "Baby Blue"

Ano: 2023

Selo: Dobra Discos

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Luiza Brina e Ana Frango Elétrico

Ouça: Fim e Começo, Baby Blue e Silêncio

8.4
8.4

Julia Branco: “Baby Blue”

Ano: 2023

Selo: Dobra Discos

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Luiza Brina e Ana Frango Elétrico

Ouça: Fim e Começo, Baby Blue e Silêncio

/ Por: Cleber Facchi 11/08/2023

A gargalhada de Cora, filha de Julia Branco, logo nos momentos iniciais de Baby Blue (2023, Dobra Discos), funciona como um indicativo sutil dos temas que serão explorados pela cantora e compositora mineira ao longo do segundo e mais recente trabalho de estúdio. Sequência ao material entregue em Soltar Os Cavalos (2018), o registro se aprofunda na temática da maternidade, porém, estabelece nas transformações vividas pela artista um catálogo de novas possibilidades e diferentes interpretações sobre o universo que a cerca.

Uma vez apresentados os conceitos que movem o disco, Branco, sempre acompanhada pela produção caprichada de Ana Frango Elétrico, trata de cada composição como uma representação preciosa das próprias experiências, certezas e inseguranças. “E se a gente puder / Virar do avesso / O mundo inteiro? / morrer ao contrário / Eu e você”, questiona na introdutória faixa-título, música que não apenas destaca a riqueza dos versos, como a suavidade dos arranjos em um soul enevoado com ares de sábado à noite. São pinceladas instrumentais que rompem com a força avassaladora de Soltar Os Cavalos, porém, encantam na mesma proporção. Nada que impossibilite a construção de faixas marcadas pela urgência dos elementos.

Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida Fim e Começo. Enquanto os versos mais uma vez se aprofundam na maternidade psicodélica de Branco (“Eu vou me abrir / Pra você chegar / O mundo todo vai parar / Só pra você nascer“), guitarras em primeiro plano, lembrando as criações de Ana Frango Elétrico em Little Electric Chicken Heart (2019), concedem ao trabalho uma fluidez única. Esse mesmo dinamismo se estende até à faixa seguinte, Silêncio, música que evoca Marina Lima na mesma medida que mergulha fundo na mente a nas inquietações da cantora. “Nem tudo que eu sinto tem palavra“, confessa.

Com a chegada de Tempo Lento, Branco volta a desacelerar, flerta com o reggae e ainda estabelece nos versos uma deliciosa reflexão sobre os excessos e a correria diária. “Eu sou do tempo em que tudo era lento / Não tem nada pra ontem aqui”, canta. Vem dessa sutileza no processo de criação o estímulo para a composição seguinte, Infinito. Pouco menos de quatro minutos em que a artista mineira flutua em meio a ambientações e vozes tratadas como um mantra. São jogos de palavras e pequenas costuras poéticas, estrutura que volta a se repetir em Quase Te Esqueci, canção que parece saída de algum disco do Pato Fu.

Passado esse momento de maior calmaria, a cantora regressa com a releitura de Lost In The Paradise, de Caetano Veloso. Originalmente lançada pelo músico baiano como parte do homônimo álbum de 1969, a composição partilha do mesmo refinamento explícito durante toda a execução do material, porém, soa mais como uma curva breve do que parte substancial do registro. Nada que Fora da Curva, vinda em sequência, não dê conta de resolver. Faixa que mais se aproxima do repertório apresentado em Soltar Os Cavalos, a canção que trata sobre a inadequação da artista destaca a capacidade de Branco em dialogar com o ouvinte por meio dos próprios conflitos. “Sou inadequada / Descabelada / Cabeça de vento“, brinca.

Escolhida como composição de encerramento do trabalho, Ponto de virada / Carta para o Futuro finaliza na mesma medida em que estimula o regresso ao disco. Enquanto os versos iniciais se aprofundam nas angústias vividas pela cantora na época em que o material foi composto, durante o período pandêmico, minutos à frente, Branco volta a dialogar de forma bastante sensível com a própria filha e, por que não, com o ouvinte. É como um espaço marcado pela contemplação, estímulo e sensação de acolhimento. Instantes em que somos convidados a se perder em um território criativo tão íntimo da artista mineira, quanto nosso.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.