Ano: 2024
Selo: Atlantic
Gênero: Indie Rock, Shoegaze
Para quem gosta de: Hotline TNT e Yuck
Ouça: Catalogue e Feminine Adornments
Ano: 2024
Selo: Atlantic
Gênero: Indie Rock, Shoegaze
Para quem gosta de: Hotline TNT e Yuck
Ouça: Catalogue e Feminine Adornments
My Anti-Aircraft Friend (2024, Atlantic) talvez não seja um dos registros mais originais que você irá escutar, mas sabe muito bem como homenagear os trabalhos que tanto o inspiram. Estreia do Julie, barulhento trio de Los Angeles formado por Alex Brady, Dillon Lee e Keyan Pourzand, o álbum de dez composições é uma passagem direta para o rock alternativo produzido nos Estados Unidos entre o final dos anos 1980 e início da década de 1990, mas que estabelece na construção dos versos um olhar melancólico para o presente.
“Eu não sinto nada agora”, canta Brady, logo nos minutos iniciais do trabalho, em Catalogue, evidenciando o tom apático que orienta grande parte das canções de My Anti-Aircraft Friend. São versos ora cantados, ora declamados, proposta que instantaneamente evoca as composições do Sonic Youth, porém livre do caráter político que sempre orientou a extensa obra da banda nova-iorquina. Instantes em que somos convidados a mergulhar na mente e nas inquietações pessoais do grupo que se formou durante a pandemia de Covid-19.
Embora gire em torno das inquietações compartilhadas entre os companheiros de banda, My Anti-Aircraft Friend está longe de parecer uma obra rasa ou que sobrevive apenas dentro do universo particular do trio de Los Angeles. Pelo contrário, há profundidade e incontestável senso de identificação com tudo aquilo que o grupo busca desenvolver ao longo do trabalho. São criações autodestrutivas, como uma manifestação dos tormentos e angústias que habitam o interior de qualquer indivíduo. Uma combinação de dor e libertação.
Ainda que esse direcionamento seja bastante evidente durante toda a execução da obra, como no canto sóbrio de Lee em Tenebrist (“Você perdeu sua cabeça / Você me perdeu agora”), é quando Brady assume os vocais que somos realmente presenteados com algumas das melhores composições do disco. “Eu vou profanar, eu serei limpa / Eu serei má e crua”, confessa em Feminine Adornments, música que sintetiza parte dessa força avassaladora que consome o registro e orienta o trio californiano até os minutos finais.
Claro que isso não interfere na entrega de faixas momentaneamente contidas, como respiros estratégicos que potencializam instantes de maior grandeza. De fato, a grande beleza de My Anti-Aircraft Friend não está no lirismo angustiado ou nos imensos paredões de ruídos que se erguem ao longo da obra, mas nas dinâmicas do grupo. Canções que encolhem e crescem de forma a jogar com a interpretação do ouvinte, como na imprevisível Very Little Effort, música que destaca a versatilidade e domínio criativo da banda.
Dessa forma, o que poderia facilmente sucumbir à nostalgia barata e forte similaridade com algumas das principais referências criativas do trio, acaba se transformando no estímulo para um repertório totalmente autoral. Mesmo que traços da obra de veteranos como Unwound, Dinosaur Jr. e Nirvana sejam percebidos durante toda a execução do material, a maneira como a banda se utiliza disso está longe de sucumbir ao óbvio, proposta que faz de My Anti-Aircraft Friend uma das melhores e mais barulhentas estreias do ano.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.