Image
Crítica

Kacey Musgraves

: "Deeper Well"

Ano: 2024

Selo: Interscope / MCA Nashville

Gênero: Country, Folk

Para quem gosta de: Maggie Rogers e Miranda Lambert

Ouça: Deeper Well, Too Good to be True e Anime Eyes

7.4
7.4

Kacey Musgraves: “Deeper Well”

Ano: 2024

Selo: Interscope / MCA Nashville

Gênero: Country, Folk

Para quem gosta de: Maggie Rogers e Miranda Lambert

Ouça: Deeper Well, Too Good to be True e Anime Eyes

/ Por: Cleber Facchi 25/03/2024

Meu Saturno retornou / Quando completei vinte e sete anos / Tudo começou a mudar“, confessa Kacey Musgraves na faixa que concede título ao mais novo trabalho de estúdio da cantora e compositora norte-americana, Deeper Well (2024, Interscope / MCA Nashville). Mais do que um fragmento isolado, como uma simples referência ao astrológico retorno de Saturno, são justamente esses versos posicionados logo nos minutos iniciais do registro que ajudam a entender as mudanças narradas pela artista ao longo da obra.

Diferente dos registros que o antecedem, caso do premiado Golden Hour (2018), vencedor na categoria de álbum do ano no Grammy de 2019, e Star-Crossed (2020), em que reflete sobre o divórcio com o músico Ruston Kelly, Deeper Well é um trabalho marcado pelo aspecto contemplativo. São canções que funcionam como um mergulho na mente e alma de Musgraves, transportando para dentro de estúdio parte dos medos, tormentos e inquietações vividas pela artista desde conquistou uma posição de destaque nos últimos anos.

Não por acaso, Musgraves e seus principais parceiros criativos, Daniel Tashian e Ian Fitchuk, com quem já havia colaborado anteriormente, decidiram investir em um repertório acústico, potencializando o uso das vozes que detalham cada mínimo sentimento manifesto pela artista. “Por favor, não faça com que eu me arrependa / Abrindo aquela parte de mim / Que tenho medo de revelar de novo“, clama em Too Good To Be True, um folk reducionista que evoca Joni Mitchell, porém, preservando a identidade criativa da cantora.

O problema é que essa abordagem econômica, talvez atrativa nos minutos iniciais do disco, se estende durante toda a execução do material. São os mesmos arranjos acústicos e formas instrumentais que aos poucos parecem reduzir a força das canções, vide faixas como The Architect e Heaven Is, posicionadas próximas ao encerramento do álbum. Falta ao trabalho a mesma abordagem contrastante dos registros anteriores, o que torna a audição de Deeper Well bastante linear e previsível, livre de possíveis surpresas.

Dos poucos momentos em que rompe com esse direcionamento, mesmo que parcialmente, Musgraves abre passagem para algumas das melhores faixas do disco. É o caso de Anime Eyes, uma apaixonante criação que não apenas destaca romantismo da cantora, como traz de volta o mesmo pop psicodélico explorado pela artista durante o lançamento de Golden Hour. A mesma riqueza de ideias pode ser percebida em Sway, com sua percussão complementar e harmonias de vozes que levam o álbum para outras direções.

Pena que para alcançar esses momentos de maior grandeza e evidente refinamento técnico, Musgraves deixa pelo caminho uma série de canções que não são necessariamente ruins, porém, inferiores quando próximas de tudo aquilo que a cantora revelou ao longo da última década. Entretanto, como indicado logo nos minutos iniciais do trabalho, trata-se de um exercício de recomeço. Uma nova forma de encarar a vida para a artista e um esforço declarado, mesmo que irregular, em não repetir fórmulas e antigos formatos.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.